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Antonieta de Barros: Primeira deputada negra do Brasil

A apenas algumas semanas de um processo eleitoral para eleger prefeitos/as e vereadores/as em todos os municípios brasileiros, pensamos ser importante lembrar Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita deputada no .

Antonieta de Barros nasceu em Santa Catarina bem no início do século, em 11 de junho de 1901.  Apesar dos tempos, foi jornalista, fundadora e diretora do jornal A Semana (entre 1922 e 1927). De personalidade forte, como teria que ser para sobreviver no mundo machista do início do século,  Antonieta fez valer seu talento e sua capacidade de liderança, tornando-se, no estado de Santa Catarina, a primeira deputada estadual negra do Brasil.

Antonieta veio ao mundo filha de uma escrava liberta e de um jardineiro, somente 13 anos depois do fim da escravidão no Brasil. Seu pai a deixou órfã muito cedo. A mãe, por sobrevivência, tornou-se dona de uma pensão para estudantes em Florianópolis. Entre estudantes, Antonieta se alfabetizou, o que era raro à época.  Disciplinada, Antonieta completou o curso normal e tornou-se professora.

Em 1922,  fundou e passou a dirigir um curso de alfabetização em sua própria casa. Tornou-se respeitada até mesmo pelas famílias brancas da ilha.  Por mais de 20 anos, escreveu para os principais jornais de Santa Catarina. Sob o pseudônimo de da Ilha, publicou o livro Farrapos de Ideias.  Nesse mundo libertário de Antonieta, mulher tinha direito ao voto.  No Brasil, o direito universal ao voto só chegou em 1932. Antonieta se rebelava em seus escritos:

A alma feminina se tem deixado estagnar, por milhares de anos, numa inércia criminosa. Enclausurada por preconceitos odiosos, destinada a uma ignorância ímpar, resignando-se santamente, candidamente, ao deus Destino e a sua congênere Fatalidade, a Mulher tem sido, de verdade, a mais sacrificada metade do gênero humano. Tutelada tradicional, irresponsável pelos seus atos, boneca-bibelot de todos os tempos”.

Em seus 52 anos de vida, Antonieta lutou por três causas centrais:  para todos, valorização da negra e emancipação da mulher. Em 1934, Antonieta fez campanha no  seguinte tom: “Eleitora. Tens em Antonieta de Barros a nossa candidata, o símbolo das mulheres catarinenses, queiram ou não os aristocratas de ontem”. Foi eleita deputada estadual, a primeira deputada negra do Brasil.  Seu mandato foi interrompido pelo ditadura do Estado Novo em 1937. Dez anos depois, em 1947, foi novamente eleita deputada.

Seu exemplo de luta merece maior destaque na historiografia brasileira. Suas lições de luta, resistência e esperança continuam válidas e necessárias nos dias de hoje:

Não será a tristeza do deserto presente que nos roube as perspectivas dum futuro melhor (..), onde as conquistas da inteligência não se degenerem, em armas de destruição, de aniquilamento; onde os homens, enfim, se reconheçam fraternalmente. Será, contudo, quando houver bastante cultura e sólida independência entre as mulheres para que se considerem indivíduos. Só então, cremos existir uma civilização melhor.”

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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