As mãos de minha mãe tecendo(…) É o que basta: uma oferenda à porta aberta.
debruçadas sobre o ponto cruz.
As linhas coloridas formando diagramas, evocando ancestrais.
As antepassadas, sem cerimônias, deitam-se na cama antiga que foi da minha avó.
A colcha de retalhos cinge os corpos etéreos e começa o conversê.
Agora mesmo – o segredo mais bem guardado – é repartido como pão recém-tirado do forno.
O cheiro espalha-se na memória. Deleite!
Apuro os meus ouvidos e olho pela fresta de mansinho.
Vejo mulheres vistosas, faces queimadas de sol.
Portam sombrinhas e vestidos de chita com florzinhas miúdas.
As alpercatas protegem os pés da seiva agreste que rebenta do solo esturricado.
Meus olhos contemplam a beleza da raiz, força que emana.
A terra se encharca com as risadas escancaradas das avós.
Depois, tudo é silêncio.
Minha mãe estende o paninho bordado e coloca-o sobre o aparador.
É o que basta: uma oferenda à porta aberta.
O perfume de alfazema enche o ambiente e, com ele, a promessa de guia nas agruras da vida!