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As Mulheres e a Resistência na Ditadura: Lutas, prisões e torturas

As Mulheres e a Resistência na Ditadura

Depoimentos sobre lutas, prisões e torturas – Os anos 60 E 70, foram marcantes para a liberação das mulheres. O movimento hippie, pregando a liberdade, a paz e o amor, foi também um protesto à guerra deflagrada pelos norte americanos contra o Vietnã, mas teve uma grande influência no comportamento das mulheres, dando início a um período mais liberal.

Por Ivete Caribé da Rocha

Nessa década aconteceram os movimentos organizados e protestos dos estudantes por todo o mundo. No , com a implantação da ditadura civil militar através do golpe de 1964, vieram muitas mudanças no ensino público, sob a cartilha do acordo MEC-USAID, imposto pelos EUA. Entre as várias mudanças nos métodos de ensino, ainda cogitava-se que todas as universidades públicas, passassem a ser pagas. Essas questões e mais a falta de liberdades, fizeram eclodir protestos em todo o País e a repressão militar passou a agir com uma crescente .

Em 13 de dezembro de 1968, o governo ditatorial baixou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), concedendo amplos poderes ao presidente da República, inclusive, o de cassar mandatos de deputados, senadores, vereadores e ministros e intervir nos Estados e Municípios, além de suprimir a liberdade de imprensa e de manifestações populares e de suspender o habeas corpus para diversas situações.

Dilma ditadura

Diante dessa completa quebra do estado de direito e das prisões que passaram a ocorrer, os partidos de se organizam para a resistência. Estudantes e trabalhadores foram os que mais responderam ao chamado e as mulheres vieram juntas para essa resistência, nas Escolas, Universidades e fábricas.

A resposta do aparato repressivo da ditadura civil-militar, foi muito cruel e atingiu especialmente as mulheres que ousaram resistir às graves violações do regime que pôs fim as liberdades, perseguindo, prendendo, torturando e assassinando quem era apontada como inimiga do regime.

As mulheres sofreram as mais graves e degradantes torturas, sendo expostas a toda espécie de vilipendio de seus corpos, choques elétricos nos seios e órgãos genitais, pancadas nas faces, estupros coletivos, humilhações e ofensas com palavras de baixo calão, foram fatos relatados às Comissões Estaduais da Verdade e a Comissão Nacional, através de depoimentos de vítimas e testemunhas.

E foi justamente uma mulher que sofreu prisões, graves torturas, viu e deu forças a companheiras que passaram pelos mesmos covardes torturadores, a presidenta , quem teve a coragem de criar a Comissão Nacional da Verdade, que investigou as graves violações da Ditadura Civil-Militar de 1964

Um olhar pela história das ditaduras do Cone Sul, mostra que em todos os regimes instalados nas décadas de 1960 a 1980, as mulheres foram alvo da maior crueldade e covardia dos repressores. Ao visitar Centros de Memória da Argentina e Chile, impressiona o número de mulheres desaparecidas, assassinadas e torturadas.

Todas jovens, estudantes ou trabalhadoras. No Memorial da Escola de Armada (ESMA), em Buenos Aires, no sótão de um dos prédios, está preservado o local onde as mulheres grávidas eram levadas até o momento de dar à luz, logo após, os bebês eram levados pelos militares e as mães, em geral, colocadas nos “voos da morte” e atiradas ao mar. O local onde essas mulheres aguardavam o nascimento de seus bebês, eram pequenos cubículos, sem janelas, apenas com uma porta de ferro e uma abertura nessa porta.

A Comissão Estadual da Verdade Teresa Urban, realizou inúmeras audiências públicas e ouviu muitos depoimentos de mulheres alcançadas pela violência do regime ditatorial. Entre esses depoimentos, alguns foram marcantes. O da própria Teresa Urban, que dá nome à Comissão da Verdade do Paraná, que foi militante estudantil nos anos mais duros, entre 1968 e 1972, presa e indiciada pela Justiça Militar, teve de exilar-se no Chile e ao retornar, em 1973, com dois filhos pequenos, foi presa, só saindo para prisão domiciliar, pela interferência da Irmã Araújo.

Outro depoimento feito em conjunto com a Comissão Nacional da Verdade, foi o de Isabel Fávero, em Foz do Iguaçu, relatando as inúmeras torturas que sofreu no Batalhão de Fronteiras, além de ouvir os gritos de seu marido durante as sessões de choques elétricos e outras torturas.

Outras mulheres também revelaram suas histórias de lutas e prisões, como a Dra. Clair da Flora Martins, Ana Beatriz Fortes, a Professora Zelia Passos e a professora Judite, entre tantas bravas e corajosas.

Teresa Urban Gazeta do PovoTeresa Urban. Foto: Gazeta do Povo

As mulheres foram fundamentais na luta pelo fim da ditadura civil-militar e pela Lei de Anistia. Constituíram Comitês por todo o Brasil e enfrentaram todas as faces do terrorismo de estado, com muito destemor. A primeira presidenta e fundadora da Comissão de Anistia, foi Terezinha Zerbini, mulher de um general preso na ditadura, ela também ex-presa politica, não se deixou jamais vencer pelo medo, a despeito de muitas ameaças que sofreu.

Não se pode esquecer do Movimento das Mães da Praça de Maio, em Buenos Aires, ainda durante o período da ditadura na Argentina, que reclamavam pelas filhas, filhos e netos desaparecidos, netos que foram criados pelos próprios militares repressores e que até hoje são descobertos pelas avós. Foi essa luta diária, sem violência, mas resistente e corajosa, que deu visibilidade aos horrores da ditadura e ao fim de um dos regimes mais violentos da América Latina.

Nossas homenagens e eterno agradecimento a todas essas valorosas mulheres e aquelas que a história não logrou conhecer pela coragem e exemplo que nos legaram!

Ivete Caribé da Rocha é advogada e integrante da Comissão Estadual da Verdade Teresa Urban – GT Operação Condor Fonte desta matéria: Professora Josete  Dica da historiadora Marcia Medeiros, de Curitiba.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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