Embora praticamente inexistam evidências arqueológicas para comprovar a existência desses fantásticos jardins, as modernas tecnologias permitem “reproduzir” o que antes se sustentava apenas na mitologia, transmitida pela memória oral de seguidas gerações desde a antiguidade.
O vídeo nos leva a concordar com o autor: Mesmo sem saber como realmente eram essas edificações supostamente extraordinárias que inspiram artistas, escritores e poetas desde Heródoto, nos transporta ao imaginário de um mundo realmente de “tirar o fôlego!”
Renato Drummond Tapioca Neto, citando como fontes Realm of History, History,com, Ancient History Encyclopedia, UNMuseum, faz um relato dessa história:
“O status mítico dos Jardins Suspensos deriva de uma lenda envolvendo rei Nabucodonosor II (632-562 a.C.) e sua esposa, rainha Amitis da Média. Segundo a estória, a rainha Amitis vivia constantemente triste, com saudades de seu lar e das belezas naturais entre as quais ela cresceu e havia deixado para trás para se casar com Nabucodonosor.
Compadecido do estado da esposa, o rei então ordenou a construção de um complexo de jardins suspensos, no coração da Mesopotâmia, que evocassem a beleza da terra da Média (que atualmente corresponde à parte noroeste do Irã). Os vales verdejantes e a fauna variada foi então recriadas no coração da Babilônia, para deleite da rainha Amitis, que desde então ficou bastante feliz. A perspectiva histórica, porém, aponta pra outro lado.
As descrições de um jardim colossal, “suspenso”, na antiga Mesopotâmia aparecem primeiramente nos relatos de um certo Beroso, sacerdote caldeu que viveu na Babilônia entre o século IV e o século III a.C. Assim como ele, outros autores gregos também forneceram descrições sobre o monumento, muitos deles utilizando o trabalho de Beroso como referência, entre outras fontes talvez mais antigas.
Diodoro da Sicília, famoso historiador grego que viveu no século I, por exemplo, supostamente baseou-se em quatro textos antigos para a seguinte descrição:
Havia também, ao lado da acrópole, o Jardim Suspenso, como era chamado, que foi construindo, não por Semíramis, mas por um posterior rei Sírio para agradar uma de suas concubinas. Por ela ser, eles dizem, da raça persa e ter saudades dos prados e das montanhas, pediu ao rei que imitasse, pelo artifício de um jardim plantado, a distinta paisagem da Pérsia. O parque tinha quatro pletras (medida antiga que equivalia a cem pés gregos) de cada lado, e uma vez que se aproxima do jardim, inclinado como uma colina, várias partes de sua estrutura aumentam de uma camada a outra, aparentando a estrutura de um teatro. Quando os terraços ascendentes foram feitos, foi construído embaixo deles galerias que suportavam todo o peso do jardim plantado e suspendiam-se pouco a pouco, uma sobre a outra, aproximando-se ao longo. A galeria superior, que tinha cinco côvados de altura, suportava a maior superfície do parque, feita ao mesmo nível do circuito de muralhas da cidade. Além disso, as paredes, construídas com grandes despesas, tinham vinte e dois pés de espessura, enquanto a passagem entre cada duas delas tinham dez pés de largura. O teto acima das vigas tinha primeiramente uma camada de juncos com grandes quantidades de betume, sobre os quais haviam tijolos cozidos ligados por cimento, e uma terceira camada de revestimento de chumbo, para que a umidade do solo não penetrasse por baixo. Sobre tudo isso novamente a terra tinha sido pilada até uma profundidade suficiente para as raízes das árvores maiores; o chão, quando foi nivelado, foi densamente arborizado com todo tipo de árvore, devido ao seu grande tamanho e para encantar, dando prazer a quem visse. E uma vez que as galerias, projetando-se uma acima da outra, receberam luz, continham muitos alojamentos reais de cada descrição; havia galerias que continham aberturas que conduziam até a superfície e máquinas para fornecer água do rio em abundância aos jardins, embora ninguém de fora pudesse ver como isso era feito.
Entretanto, apesar dessas descrições, existem poucas evidências factuais concretas que dão suporte à existência dessa estrutura gigante, alimentada pelas águas do rio Eufrates.
O monumento teria sido construído para imitar uma montanha coberta por vegetação exuberante. De acordo com a descrição póstuma de Diodoro, a estrutura apresentava uma arranjo de vários terraços, dispostos um sobre o outros como se fossem andares, sustentados por colunas de tijolos de argila, já que a região da Mesopotâmia carecia de pedras próprias para essa finalidade.
Os engenheiros teriam preenchido essas colunas com argamassa de betume, para facilitar o crescimento das plantas e das árvores. Estudiosos da engenharia, porém, argumentam que a construção do monumento nas proporções em que foi descrito teria exigido todo um complexo sistema de bombas, tanques e shadufs (espécie de aparelho manual para elevação de água), para transpor a água do rio para os Jardins.
Ao longo dos anos, o crescimento da grande variedade de espécimes de fauna e flora em diversos níveis certamente apresentou um resultado fascinante aos olhos de quem visse, dando a aparência de uma montanha artificial. Diodoro da Sicília, em seu relato, também menciona a utilização de lajes de pedra, com plataformas cobertas por camadas de cana, asfalto e telhas, possivelmente para impedir que a umidade da água penetrasse os tijolos das colunas.
Porém, conjecturas arquitetônicas à parte, as evidências arqueológicas apontam para o fato de que, ao contrário do que sugere os textos gregos antigos, os famosos Jardins Suspensos da Babilônia não ficavam próximos das margens do rio Eufrates, apesar de existirem ali perto ruínas de uma superestrutura de 82 pés de paredes sobrepostas, possivelmente construída nos tempos antigos. Mas, infelizmente, não há como afirmar que se tratavam dos míticos jardins construídos pelo rei Nabucodonosor.
Na opinião do Dr. Stephanie Dalley, pesquisador honorário do Instituto Oriental da Universidade Oxford, os Jardins Suspensos eram reais, mas não estavam localizados na Babilônia. Ao analisar textos cuneiformes antigos, Dalley concluiu que o monumento teria sido construído no século VII a.C., 300 milhas ao norte da Babilônia, na cidade real assíria de Nínive. Esses mesmo textos refutam Nabucodonosor II como o responsável pela edificação dos Jardins e apontam o rei assírio Senaqueribe como o ordenante da construção, como parte do seu próprio complexo de palácios.
Algumas fontes assírias mencionam, inclusive, o uso de parafusos para elevação da água, feitos em bronze e que poderiam ter funcionado de maneira similar ao famoso “parafuso de Arquimedes”. Essa hipótese encontra evidência arqueológica nas ruínas de um sistema de aquedutos encontradas ao redor de Nínive, na atual região de Mossul, utilizados para transpor água das montanhas.
Com efeito, também existem certas imagens pictóricas em baixo-relevo em Nínive que retratam um exuberante jardim, com arcos ornamentais e plantas suspensas, alimentado pelas águas do referido aqueduto. Não obstante, é preciso considerar que o terreno montanhoso ao redor de Nínive teria tornado muito mais fácil o transporte de água do que as planícies da Babilônia.
De acordo com a pesquisa de Stephanie Dalley, os “Jardins Suspensos de Nínive”, eram compostos por uma série de terraços sobrepostos como se fossem um anfiteatro, banhados por um lago artificial na base. Certas imagens de satélite mostram os restos de uma estrutura nas dimensões sugeridas, com 300 pés de largura e 60 de profundidade, nas proximidades da cidade.
Para o pesquisador, os historiadores gregos antigos se equivocaram na localização dos Jardins, uma vez que em 689 a.C. os assírios conquistaram a Babilônia e passaram a chamar sua cidade real de Nínive de “Nova Babilônia”. Esse aspecto poderia ter confundido os historiadores, que só escreveram sobre o monumento dois séculos após a sua construção.”
Ilustração: arquimedes97.blogspot.com
Obs.: publicado originalmente em 9 de set de 2016