Bélgica: Encontrados 36 tipos de pesticidas nos ninhos com filhotes de aves mortas

Bélgica: Encontrados 36 tipos de pesticidas nos ninhos com filhotes de aves mortas

Em 2018, a organização de da  Vogelbescherming Vlaanderen, da Bélgica, começou a receber uma série de relatos de pessoas que estavam encontrando filhotes de aves, mortos em ninhos.

A ONG decidiu então fazer uma pesquisa para tentar encontrar a razão da mortalidade dos jovens pássaros. Com o dinheiro arrecadado através de uma campanha de crowdfunding, foram feitas análises nos ninhos onde estavam as aves mortas.

O resultado da investigação foi divulgado há poucas semanas e é chocante. Foram descobertos 36 tipos de diferentes de pesticidas nos ninhos.

“Isso é preocupante. Especialmente porque os filhotes tinham duas semanas de vida, no máximo, e nunca estiveram fora da do ninho”, diz Geert Gommers, especialista em pesticidas.

“Detectamos fungicidas (contra fungos), herbicidas (contra ervas daninhas), inseticidas (contra insetos) e biocidas. É surpreendente que observamos ainda a presença de DDT em 89 dos 95 ninhos examinados. O uso deste inseticida foi oficialmente proibido na Bélgica desde 1974 e o DDT ainda está presente em nosso ambiente depois de todo esse tempo”, destaca o autor da pesquisa.

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Declínio das aves

No ano passado, novos estudos revelaram que os pesticidas estavam provocando um declínio assustador de aves na Europa.

A pesquisa realizada na França indicava que os agrotóxicos estavam matando os insetos e com o seu desaparecimento, já que são dos pássaros, dezenas de espécies de aves tiveram uma redução brutal no número de indivíduos porque padeciam de fome. Algumas apresentaram uma diminuição de até 1/3 nos últimos 15 anos.

Os pesquisadores consideravam a situação catastrófica. Alertavam que se nada fosse feito, os campos do interior francês se tornarariam “desertos”.

Em comunicado à imprensa, o Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França afirmava que uso indiscrimado de pesticidas e a monocultura, sobretudo de trigo e milho, são os principais responsáveis pela dos insetos e das aves.

Impacto sobre as abelhas

Diversos estudos também têm confirmado os efeitos nocivos dos pesticidas sobre as . E não é só. Pesquisadores denunciam que os agrotóxicos utilizados na são prejudiciais ainda para outros polinizadores, como as borboletas.

Na maioria desses trabalhos científicos, as evidências recaem sobre um tipo específico de pesticida: o neonicotinóide.

No estudo “Impacts of neonicotinoid use on long-term population changes in wild bees in England”, realizado pelo Centre for Ecology and Hydrology do Reino Unido, apontaram o declínio da população de 62 abelhas selvagens na Inglaterra, entre os anos de 1994 e 2011 – período este em que os neonicotinóides tornaram-se bastante populares e seu uso intensificado.

Derivado da nicotina, o neonicotinóide é usado para controlar pragas. O grande diferencial deste agrotóxico é ser sistêmico, ou seja, ele se espalha por toda a planta: folhas, , ramos, raízes e até, néctar e pólen. Em geral, ele é colocado na semente e a partir daí, toda a planta fica com vestígios dele.

Em toda Europa, estima-se que já houve um declínio de 80% na população de insetos, afetando diretamente a sobrevivência das aves no continente. Dados do European Bird Census Council indicam uma redução de 55% desde a década de 80. Das 39 espécies de aves “rurais” analisadas, 24 tiveram uma queda em seus números.

Entre as principais espécies impactadas estão as cotovias (Alauda arvensis), as papuxas (Sylvia communis) e a sombria (Emberiza hortulana). De cada dez petinha-dos-prados (Anthus pratensis), por exemplo, sete sumiram das plantações francesas.

Fotos: divulgação Vogelbescherming Vlaanderen

Suzana Camargo: Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como , energias renováveis e . Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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