Bezerros: A arte em florescência

BEZERROS: A ARTE EM FLORESCÊNCIA

Bezerros: A arte em florescência

Saindo do Recife pela BR-232 em direção a Caruaru, cidade conhecida pelo incomparável São João, cerca de 100 quilômetros adiante está Bezerros, terra da arte em constante, exuberante, fabulosa florescência…

Por Lúcia Resende 

Bezerros é o chão de mestres da arte popular como o afamado cordelista e xilogravurista J. Borges (José Francisco Borges), premiado pela UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural e com trabalhos espalhados no mundo inteiro; e de Lula Vassoureiro (Amaro Arnaldo do Nascimento), criador das famosas máscaras de Papangu, ambos reconhecidos como Patrimônios Vivos de Pernambuco.

De Bezerros é também o cineasta Marlom Meirelles, com filmes exibidos em mais de dez países e em dezenas de festivais pelo mundo, sempre abordando aspectos da cultura e da vida de sua gente, como em Olhos de Botão (2015). E de Bezerros são outros tantos homens e mulheres que fazem da arte seu viver e meio de sobreviver.

A cidadezinha de pouco mais de 60 mil habitantes, distante cerca de 100 quilômetros da capital, conta com importantes ateliês e espaços culturais, como a Estação da Cultura – Museu e Espaço Papangu, o Memorial de J. Borges & Museu da Xilogravura, a Casa de Cultura Popular Lula Vassoureiro e o Centro de Artesanato de Pernambuco – Unidade Bezerros.

“A valorização do artesanato é uma vivência, é um reflexo da experiência de cada indivíduo; esse entendimento é a única forma honesta de dimensionar a importância do artesanato para cada pessoa”.
Pollyanne Santos gerente da Unidade Bezerros.

Para quem vai do Recife, a parada em Bezerros, no Km 107, margem esquerda da BR-232, é forma certa de entrar em contato com a arte não só do município, mas de todo o estado. É lá que fica o Centro de Artesanato de Pernambuco – Unidade Bezerros, onde se pode ter uma visão da riqueza cultural daquela gente e ainda levar um pedacinho de sua diversidade artística pra casa.

Resultado de política pública e erguido num terreno de 12 mil metros quadrados, em fevereiro 2003, o Centro é composto por loja, museu e auditório, totalizando 1,6 mil metros quadrados de uma construção simples, mas totalmente acessível, que atrai já a partir da fachada, composta com peças de barro, tecido chita, palha, papel colorido, em meio e sobre plantas, um verdadeiro cartão-convite.

Ali é possível conhecer os produtos artesanais mais representativos do estado, cuidadosamente organizados no museu, conhecer as expressões genuínas dos grandes mestres do artesanato, assim como encontrar uma infinidade de peças à venda. O conjunto constitui, sem dúvida, importante polo para a difusão da rica cultura pernambucana.bez3

Logo na entrada, à direita, de braços abertos, uma enorme senhora representa os bonecos gigantes de Olinda, atraindo quem chega para a aventura. A visita é guiada por pessoa qualificada (monitor/a), que informa e esclarece sobre todo o acervo e, assim, se pode aprender sobre a arte produzida nas diversas cidades, bairros ou regiões, sobre os artistas e as técnicas utilizadas.

Nas salas, estão distribuídas peças de todos os grandes polos de artesanato do estado, de dezenas de municípios, de bairros como o Alto do Moura, de Caruaru, berço de mestre Vitalino, o precursor da arte figurativa pernambucana. Há no museu obras dos grandes mestres do estado, que são os artesãos e artesãs que foram além da reprodução, imprimindo marca própria em sua obra.

Mamulengos, casa de farinha mecanizada, reizados, cenas cotidianas, bonecos, bonecas, redes, renda renascença, veículos em miniatura, máscaras, xilogravuras, entalhes, esculturas, carrancas, figuras sacras e outras expressões artísticas feitas com materiais diversos, desde o barro tradicional, a madeira, o metal, as fibras, o couro, o papel, o tecido multicolorido, as tintas, até as latas atiradas na beira da estrada que se transformam em pequenos carros, caminhões e ônibus. Um cantinho especial registra a vida do sertanejo, em particular a figura do vaqueiro.

O museu possui acervo único e visitá-lo é aprender muito sobre a produção do artesanato de Pernambuco, um dos mais expressivos do Brasil. Ir a Pernambuco e não visitar o Centro de Artesanato em Bezerros é perder muito da história do Nordeste.

Terminada a visita ao museu, entra-se na loja, onde é possível comprar a preços módicos artesanato da melhor qualidade. São milhares de peças de centenas de artesãos e artesãs que se valem do espaço para divulgação e comercialização de seu trabalho.

O Centro de Artesanato de Pernambuco – Unidade Bezerros – desenvolve um projeto de realização de oficinas, com grupos agendados de até 20 pessoas, para experiências na produção do artesanato ali representado.

Funcionamento: de terça a domingo, das 8 às 17 horas.

Localização: Avenida Major Aprígio da Fonseca, 1.100

Rodovia BR 232, Km 107  São Sebastião, Bezerros, Pernambuco, Brasil.

Contato: (081) 3728-6650 cape.bezerros@centrodeartesanato.pe.gov.br

Observação: Desde 2012, existe outra unidade do Centro de Artesanato de Pernambuco, no Recife, ao lado do Marco Zero. Lá, entretanto, não existe o museu.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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