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Brasil quer repatriar aves enviadas à Índia sem autorização do governo

Brasil quer repatriar aves enviadas à Índia sem autorização do governo

Uma grande apreensão na Alemanha pode envolver araras brasileiras alvo de proposta para comercialização internacional.

Por Aldem Bourscheit/O Eco

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) informa que o Brasil pedirá a repatriação das 26 ararinhas-azuis e das 4 araras-azuis-de-lear enviadas em fevereiro à Índia pela Associação para Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), da Alemanha.

“O Governo Federal avaliará todas as medidas possíveis para repatriação das aves submetidas às operações comerciais mencionadas no Documento 33.8 da CITES”, descreve a autarquia. A convenção permite o comércio mundial de espécies mesmo em risco de extinção.

Ao menos 30 aves foram remetidas pela ACTP sem informar ao Governo Brasileiro, dizem ICMBio e Ibama. O criadouro insiste que o Brasil foi informado da parceria com o zoológico indiano Greens Zoological Rescue and Rehabilitation Centre (GZRRC).

“As transferências internacionais de espécimes de ararinha-azul só devem ser autorizadas pela CITES quando de acordo com o Programa de Manejo [da ave] e referendadas pelo Governo Brasileiro”, ressalta o ICMBio.

Como noticiamos, esta semana na 77ª reunião do Comitê Permanente da Cites, em Genebra (Suíça), podem ser liberados negócios com exemplares de cativeiro das araras brasileiras. Os recursos das vendas serviriam para reforçar sua conservação, alegam os defensores das transações.

Mas, governo, entidades civis e pesquisadores brasileiros são contrários à possibilidade, pois avaliam que isso pode estimular crimes, como o tráfico de vida selvagem, e não ajudaria a conservar as espécies livres na natureza. Ambas as araras são exclusivas da Caatinga.

O posicionamento do Executivo Federal foi anunciado pelo diplomata Ângelo Paulo Sales dos Santos no encontro da Cites. “Na mesma reunião, o Brasil solicitou informações sobre as ararinhas-azuis e araras-azul-de-lear [em criadouros] na Europa”, diz o ICMBio.

Cinzenta apreensão

Ararinhas-azuis e araras-de-lear estariam entre mais de 50 aves confiscadas no fim de outubro no distrito de Görlitz, junto à fronteira com a Polônia. Ao menos cacatuas, naturais da Ásia e Oceania, também foram apreendidas.

((o)eco aguarda a confirmação das espécies. Os animais estavam com um suspeito de 44 anos, cuja identidade não foi revelada. As quantias de cada ave e o local onde estão abrigadas igualmente não foram informados. 

“Não estamos autorizados a dizer, também para não colocar em perigo os colegas que lidam com isso”, disse à rede pública MDR um porta-voz do Escritório de Investigação Alfandegária da cidade de Dresden.

Durante as buscas em Görlitz e também em Waren, essa ao norte da Alemanha, também foram apreendidas outras espécies de aves, grande quantidade de Euros, roupas e uniformes da polícia, drogas, armas e pólvora. 

Sob investigação, os crimes ocorreram poucos dias antes da reunião na Suíça da Cites, que avaliará o comércio globalizado de ambas as espécies de araras brasileiras, mesmo de cativeiro. 

Aldem Bourscheit Biólogo e  Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: MDR/Tagesschau/Divulgação.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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