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Brumadinho: dois anos de luto e impunidade

Brumadinho: dois anos de luto e impunidade

Brumadinho: do luto à impunidade, uma tragédia sem fim. Rompimento da barragem causado pelo descaso da Vale, que matou 270 pessoas, completa dois anos com processos judiciais inconclusos, danos ambientais profundos e a dor sem fim dos parentes das vítimas.

Por Cristina Serra

“Não é um luto normal. A minha família foi exterminada. É uma dor profunda saber que essas poderiam ter sido evitadas, que a Vale sabia dos riscos e não fez o que tinha de fazer. Esse meu luto não era para existir.” Assim, Helena Taliberti, 63 anos, explica como tem sido viver desde que, dois anos atrás, a avalanche de lama do complexo da Vale em Brumadinho (MG) matou seus dois filhos, Camila, 33 e Luiz, 31, sua nora, Fernanda, 30, e o bebê que ela carregava no ventre e que se chamaria Lorenzo.

A família de Helena chegara de e estava hospedada na pousada Nova Estância, vizinha da barragem, que foi completamente destruída. Camila, Luiz e Fernanda tinham ido a Brumadinho para conhecer Inhotim, museu a céu aberto com um dos maiores acervos de contemporânea do país e que escapou da lama. Estavam acompanhados do pai, Adriano da , 61, e da esposa dele, de Lourdes Bueno, 58. Morreram todos.

Eles estão entre as 270 vítimas (número oficial) da maior tragédia humana associada à mineração no . A Associação dos Familiares das Vítimas e dos Atingidos de Brumadinho (Avabrum) inclui ainda dois nascituros, entre eles Lorenzo, elevando o total para 272. Desse total, onze ainda estão desaparecidas e o Corpo de Bombeiros prossegue na busca pela identificação dos corpos.

Fonte: Projeto Colabora

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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