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Câmara aprovou Mercado Regulado de Carbono com mudanças que beneficiam Agro

Câmara aprovou Mercado Regulado de Carbono com mudanças que beneficiam Agro

No apagar das luzes de 2023, deputados alteram – e aprovam – texto, que agora possibilita dupla contagem de créditos e não dá garantias totais a povos originários.

Por Gabriel Tussini/ O Eco

A Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta quinta (21), o PL 2148/15, que regulamenta o mercado de carbono no . O texto, aprovado por 299 votos a favor e 103 contra, cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), limitando a emissão de gases poluentes por meio de metas criadas por um Plano Nacional de Alocação, em que aqueles que mais emitem deverão comprar créditos daqueles que reduzirem além de sua meta. O texto, porém, exclui da limitação a atividade agropecuária, setor que, associado às mudanças de uso do solo, responde por 75% das emissões brasileiras. O seguirá agora para o Senado.

A exclusão do agro, feita a pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária, se deu devido à “falta de métricas adequadas para medir as emissões da atividade do setor”, segundo o relator do projeto da Câmara, o deputado Aliel Machado (PV-PR). 

Ele condicionou a futura do setor no Sistema ao dessas métricas. “Entendo que, logo sendo aperfeiçoado esse sistema [de métricas], será um caminho natural a entrada do ”, argumentou o parlamentar, citado pelo . Na mesma linha, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), vice-líder do governo no Congresso, defendeu a exclusão, no plenário, “inicialmente como um processo de transição”.

A federação PSOL-REDE bem que tentou, por meio de um destaque no texto, incluir o setor da agropecuária na limitação das emissões, mas sua proposta foi derrotada pelos votos de 301 deputados, contra 81 votos favoráveis. 

Argumentando a favor do destaque, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) classificou a exclusão como “um privilégio indefensável”, pois favorece um setor historicamente beneficiado pelo Estado e que “é o que mais emite gases de efeito estufa, inclusive com a abertura de pastagens”. A federação PT-PCdoB-PV foi o único bloco a orientar voto favorável ao destaque – mesmo que, contraditoriamente, o governo liderado pela própria federação tenha encaminhado voto contrário.

redação final do projeto, costurada por Machado, ainda permite que proprietários de terras gerem créditos de carbono pela manutenção de Área de Preservação Permanente (APP), de reservas legais e de áreas de uso restrito, que legalmente já não podem ser derrubadas. 

Assim, produtores rurais serão pagos pelo simples cumprimento do Código Florestal, o que, segundo nota do Observatório do , vai contra o Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário, que dita que créditos de carbono só podem ser comercializados internacionalmente caso tenham “adicionalidade regulatória”. Ou seja, que vão além do que já é obrigatório pelas leis.

Além disso, a abertura da possibilidade de venda de créditos por meio de um sistema privado paralelo aumenta a possibilidade de dupla contagem de créditos, diz o Observatório do Clima. De acordo com a organização, com a confusão de mercados estatais (regulados) e privados (não-regulados), dentro e fora do mercado, “o PL aumenta o risco de dupla contagem com a barafunda jurídica no REDD+”.

O projeto prevê, ainda, a venda de créditos de carbono por e comunidades tradicionais aos grandes emissores. O relator não incluiu, porém, sugestões do Ministério dos Povos Indígenas e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) – que previam a supervisão da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) no processo de consentimento.  A exclusão da proposta gerou temores de assédio por parte de empresas interessadas, como já investiga o Ministério Público Federal.

Também ficou fora do texto final a possibilidade de direito a veto das comunidades aos projetos de créditos de carbono em qualquer etapa de seu desenvolvimento, que havia sido proposta pelo MPI e APIB.

“O projeto oficializa o faroeste de carbono florestal no Brasil. A ganância dos ruralistas, além de não levar a lugar nenhum, já que dificilmente alguém comprará esses créditos florestais [devido à falta da adicionalidade prevista pelo Acordo de Paris], cria ruído num PL que estabelece um instrumento maduro e sofisticado para ajudar o país a cumprir suas metas climáticas com a maior eficiência possível”, resumiu Stela Herschmann, coordenadora-adjunta de Internacional do Observatório do Clima.

Entenda o que é o mercado regulado

Participarão do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa as empresas que emitem mais de 10 mil toneladas de CO² equivalente, que serão obrigadas a reportar suas emissões, mas não terão metas de redução – essas serão recebidas apenas por aquelas que emitam mais de 25 mil toneladas. 

Cada tonelada de emissão de CO² reduzida valerá um Certificado de Redução ou Remoção Verificada de Emissões (CRVE), que poderá também ser comercializado. O SBCE será composto por 3 órgãos – gestor, deliberativo e consultivo. O órgão gestor, porém, não contará com participação da civil, o que é alvo de críticas de ambientalistas.

Gabriel TussiniEstudante de Jornalismo (UFRJ). Fonte: O Eco. Foto de capa: Deputado Aliel Machado, relator do projeto na Câmara. Fonte: Agência Câmara de Notícias.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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