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Candidaturas LGBT+ tem registro histórico

Candidaturas LGBT+ tem registro histórico, mas ainda representa 0,76% do total

Levantamento revela que 64% das candidaturas LGBT+ são negras, 27% são trans e 18% estão presentes em candidaturas coletivas. O Sudeste é o que conta com o maior número, 81 no total…

Por Mauro Utida/via Mídia Ninja

Um levantamento, feito pela organização VoteLGBT, mostra um total de 214 candidaturas LGBT+ registradas pelos partidos na Justiça Eleitoral para o pleito eleitoral de outubro deste ano. Segundo a organização, mesmo o número representando apenas 0,76% das 28 mil candidaturas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o resultado destas eleições até aqui é histórico. Em 2018, a organização mapeou 157 candidaturas LGBT+ registradas no TSE.

“Em um contexto totalmente adverso, de uma reforma eleitoral que reduziu pela metade a quantidade de vagas dos partidos nas urnas, as candidaturas LGBT+ conseguiram um novo recorde. Mas ainda estamos trabalhando em um cenário de muita desigualdade, ocupamos atualmente 0,16% dos cargos políticos eletivos e apenas 0,76% do total de candidaturas destas eleições é de LGBT+, mas é bom ver o avanço”, diz Evorah Cardoso, integrante do VoteLGBT.

O levantamento também revela que 64% das candidaturas LGBT+ são negras, 27% são trans e 18% estão presentes em candidaturas coletivas. Em relação a divisão por estado, o Sudeste é o que conta com o maior número de candidaturas, 81 no total, seguido pelo Nordeste com 55, Centro-Oeste 30, Sul 36 e Norte 12.

Segundo a pesquisadora Evorah, o novo foco da organização é pressionar as legendas para investir nessas candidaturas. “Agora, o desafio é conseguir que os partidos garantam recursos a estas candidaturas, para que não tenham de depender apenas de sua capacidade de mobilização social própria para serem eleitas. Elas precisam de apoio para que o número de LGBT+ eleitas seja um novo recorde também”, explica.

As candidaturas LGBT+ podem ser conferidas no site do VoteLGBT.

Candidaturas trans
A comunidade trans não possui representantes na atual legislatura da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, com seus quadros ficando limitados a poucas deputadas estaduais e vereadoras. Nestas eleições, há 57 travestis concorrendo a uma vaga no Congresso Nacional.

A violência com pessoas trans com cargo político também é obstáculo para fortalecer o número de candidatas. A vereadora Benny Briolly, do PSOL de Niterói (RJ), sofre ameaças desde antes da sua posse, chegando a receber ataques de outros parlamentares dentro da própria Câmara Municipal.

Benny Briolly já sofreu mais de 30 ameaças de morte, além de ataques de cunho racista e transfóbica desde 2018 e que se intensificou no final de 2021. Recentemente, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu uma resolução para que o Governo Federal adote medidas necessárias para proteger a vida e a integridade da vereadora, além de mais três assessores da sua equipe, devido a gravidade e urgência das ameaças de morte.

Também alvo de violência, a vereadora Duda Salabert, do PDT de Belo Horizonte (MG), tem denunciado ameaças anônimas por e-mail de grupos neonazista, com ameaças que incluem sua família. A vereadora mais votada da história de BH é pré-candidata a deputada federal. Ela também foi a primeira mulher travesti a se candidatar a uma vaga no Senado.

A vereadora de São Paulo Erika Hilton e a vereadora suplente de Porto Alegre e ativista pelos direitos das pessoas trans e travestis Natasha Ferreira, ambas do PSOL, também foram ameaças de morte recentemente por grupos bolsonaristas, através de mensagens enviadas por e-mail anônimo. Ambas são candidatas à Câmara dos Deputados e o autor das ameaças exige que as parlamentares abandonem a vida pública.

“O objetivo é nos fazer desistir da disputa eleitoral e de ocupar a política sendo travestis. Não conseguirão”, relatou Natasha.

Maior diversidade
Além do recorde de candidaturas LGBT+ nestas eleições, o TSE também contabilizou o maior número de mulheres candidatas das últimas três eleições gerais. E, pela primeira vez, desde que foi instituída a autodeclaração racial, em 2014, o percentual de candidaturas negras é superior ao de candidaturas brancas em uma eleição geral.

O número de candidatas indígenas cresceu 67,35% em relação a 2018, passando de 49 para 82. Já em relação a 2014, a alta é de 182,76% (foram 29 naquele ano). Ou seja, quase o triplo.

Sobre o VoteLGBT
O VoteLGBT é uma organização não-governamental que, desde 2014, busca aumentar a representatividade de pessoas LGBT+ em todos os espaços, principalmente na política. A organização parte do princípio de que só existe democracia quando há diversidade, por isso, também enxerga a representatividade de forma interseccional às questões de gênero e raça. Desde 2016, realiza pesquisas sobre a população LGBT+, entendendo que esses dados são fundamentais para uma leitura complexa dessa parcela da população e para a criação de políticas públicas que incluam suas necessidades.

https://xapuri.info/corpos-que-estao-aqui-e-resistirao/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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