CURIOSIDADES SOBRE CANTIGAS BRASILEIRAS

CURIOSIDADES SOBRE CANTIGAS BRASILEIRAS

Curiosidades sobre cantigas brasileiras

Mesmo com algumas modificações, as melodias folclóricas persistem em nossa cultura e atravessam gerações 
Por Natália Pesciotta/ no Portal Avosidade 

Jó tinha escravos? Onde fica o Itororó? E o peixe fora d’água?

 “É impossível identificar os compositores das cantigas infantis populares”, sentencia Luís da Câmara Cascudo, o maior folclorista brasileiro. Pois, dizia ele, “elas não têm sua autoria identificada e são continuamente modificadas, adaptando-se à realidade do grupo de pessoas que as cantam.”

Ainda assim, ele tinha uma pista sobre a origem inicial da maioria das cantigas de roda frequentes no país. No livro “Antologia do Folclore Brasileiro”, afirma que vinham de Portugal e Espanha. Claro que negros africanos brincavam em roda, mas a cultura europeia acabou sobreposta, pela forma de colonização.

Mesmo modificado a cada tempo e região, o repertório infantil popular, no entanto, persiste. A ponto de netos e avós serem formados com melodias semelhantes e poderem compartilhar este conhecimento durante a infância dos mais novos.

Até o entretenimento industrializado (televisão, DVDs), que já foi entendido como “ameaça” à cultura popular e ao brincar na rua, hoje ajuda a fortalecer a partilha das cantigas clássicas, com novas gravações e versões. O certo é que o apelo dessas melodias com os mais novos não se esgota.

Veja curiosidades sobre algumas delas:

Hemingway tentou aprender Escravos de Jó cantigas

Toda criança brasileira aprende, em algum momento, a fazer a brincadeira em que se movimenta objetos com as mãos enquanto se entoa a cantiga Escravos de Jó. O correspondente de guerra Egidio Squeff costumava usar música e jogo para se distrair durante a Segunda Guerra (1939-1945), em Porreta-Terme (Itália).

Os outros jornalistas no acampamento contavam que o grande escritor americano Ernest Hemingway (“O Velho e o Mar”, 1954) também acompanhava o front e, nos momentos de distração, não conseguia aprender a brincadeira de forma alguma, apesar de muito curioso. Squeff resmungava: “lá vem o Hemingway que, além de chato, é burro. Como é que alguém consegue não aprender uma bobagem dessas?”

Jó não tinha escravos 

Apesar de geralmente ser relacionada a Jó da Bíblia, o historiador Luiz Antonio Simas acredita que a cantiga tenha uma palavra em quicongo, língua africana. “Njó” é casa, logo o termo “escravos de jó” se refere aos escravos domésticos. “Caxangá” é um jogo de pedrinhas, esclarece o historiador.

Itororó, onde fica?

“Eu fui no Itororó beber água e não achei…” Sim, o Itororó é o nome de um local que existe, mas não se sabe exatamente qual. Há ribeirões com esse nome em Santos (SP), Salvador (BA), Camanducaia (MG) e igualmente em vários outros municípios brasileiros. Isso porque, em tupi antigo, o termo queria dizer ‘jorro d’água´, ou seja, uma bica ou pequena queda. (y, água, e tororoma, jorro)

Curioso notar, pois., em Santa Catarina, estado próximo do local da Batalha do Itororó (1868), na guerra entre Paraguai e Brasil, entram na letra personagens deste episódio histórico. “Eu fui no Itororó/ Beber água e não achei/ Ver Moreno e Caballero,/ Já fui, já vi, já cheguei”. Moreno e Caballero eram, segundo a História, generais das tropas paraguaias.

Homenagem para um presidente cantigas

A cantiga folclórica Peixe Vivo costumava ser tocada do mesmo modo na região de Diamantina, no interior de Minas Gerais, nas famosas serestas que eram populares por lá há séculos. Era por isso citada como uma das músicas preferidas do ex-presidente Juscelino Kubitschek, um dos mais ilustres nascidos na cidade.

Desde então, a melodia simples virou uma espécie de hino do presidente, entoada como saudação em toda parte. Assim, foi cantada até no velório dele, por cortejo popular, em Brasília, em 1976.

Ilustração: J. Lima Studio

Fonte: avosidad

cantigas folcloricas para brincar de roda scaled
Foto: Lunetas/Divulgação

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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