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Caravanas: A esperança está aí, e vai voltar!

Caravanas: A esperança está aí, e vai voltar!

Depois de passar pela capital mineira, a turnê Caravanas, de Chico Buarque de Holanda, fez desembarque no Rio de Janeiro, neste comecinho de 2018…

Por Lúcia Resende

A estreia no Rio, na noite do dia 4, foi apoteótica. Nossa mesa, na primeira fila, me trouxe a possibilidade de ver Chico bem ali na minha frente, quase um deus, com aqueles olhos de mar tragando a plateia. Homens, mulheres, todxs, sem distinção, em atitude de reverência ao ser humano, ao artista, ao brasileiro Chico Buarque de Holanda.

Eu, de tão emocionada (desculpem, mas perco mesmo até a compostura!), mal consegui fazer alguns registros. E lá veio ele, cantando, sambando, relembrando e entremeando as músicas de Caravanas.

Na música título, não houve como não fazer pequena digressão com os versos “filha do medo a raiva é mãe da covardia” pra pensar nesse ódio gratuito que grassa por aí. E pensar até que a doida sou eu, não deve haver gente tão insana… Mas foi breve, porque impossível não me arrepiar e não permanecer com os olhos fixos e os ouvidos em estado de alerta máximo durante aquelas exatas duas horas.

O show terminou, e Chico se foi caminhando com aquele passinho curto para os bastidores. Pedimos mais um, gritamos volta, Chico, mas foi só quando a plateia em coro gritou bem alto “FOOOra, Temer”, que ele voltou, com Geni e o Zepelin. Cantou mais um tantinho, e o pano fechou.

De repente, ao fundo, na plateia que não queria sair dali, um grupo começou aquela música que não sai dos ouvidos do povo: “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”! Foi a senha pra que o coro se formasse, pra que soltássemos as vozes, e pra que ele viesse novamente, olhos mais brilhantes ainda, cantando seu Partido Alto, um chamado expresso à indignação.

Naquele instante, a gente sentiu que pode demorar um tiquinho, que nada é pra já, mas que a esperança, mesmo que se equilibrando, está aí, e vai voltar!

O show Caravanas permanece no Rio até 4 de fevereiro. Em março, a temporada será na capital paulista. A partir daí, deve seguir pra outras capitais, inclusive Brasília, onde deve chegar ainda no primeiro semestre de 2018.

Lúcia Resende –Professora


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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