Carta aberta para quem não tem corrupto de estimação

aberta para quem não tem corrupto de estimação
 
Por Redação Pragmatismo Político

Não sejamos ingênuos – só um ingênuo diria e acreditaria em si dizendo “não tenho corrupto favorito, que vão para cadeia todos”. Os ingênuos acreditam que perder e ganhar faz parte do jogo, mesmo quando jogam contra adversários que trazem nas mangas cartas marcadas. Você não escolhe seus corruptos – há quem os escolhe por você

Com o advento da condenação e ordem de prisão de , uma parte dos meus amigos deram de comemorar pelas .

Acompanho a desde menino e sei que pouco sei de política. Já muitos dos meus amigos, que no mais, acompanham o campeonato brasileiro ou as novelas da Globo, de repente, se tornaram grandes conhecedores de política e economia e festejam, com a prisão de Lula, o início do fim da impunidade.

Acredito que todos estejam sendo sinceros. Alguns deles, no entanto, eu conheço o suficiente para dizer que não têm moral para acusar ninguém. Temo que outros estejam sinceramente iludidos.

São os mesmo que disseram no passado: “primeiro tiramos a Dilma, depois tiramos todos os outros”.

O Temer está aí firme e forte. E meus amigos, quando agora vão para a Paulista no domingo, é para andar de bicicleta. Temer não cai – nem quando também ele assim aparece no Jornal Nacional – nem meus amigos o derrubam. Não parecem preocupados. Deveriam.

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Enviam-me mensagens de ódio contra todos os ministros do Supremo que votaram a favor do habeas corpus de Lula. Mas basta digitar no Google “PGR pede arquivamento de processo” ou pior “prescreve processo contra…” e os nomes que aparecem vão de Romero Jucá a José Serra, passando por Aécio Neves – nunca Lula – e nada abala a tranquilidade dos meus amigos. Seguem suas vidas e me enviam uma foto sorridente com a legenda “sentindo-se feliz em Santa Felicidade”.

Digite “Justiça manda destruir provas” e vai aparecer “FHC” ou “Castelo de Areia”- e meus amigos enviam-me uma corrente de São Judas Tadeu – padroeiro das causas impossíveis – e solicitam que eu confirme com um amém.

Você diz que não tem corrupto favorito e quer que sejam todos presos. Eu acredito e tenho medo. Medo que seja somente uma frase feita que te ensinaram e na qual você acredita como um autoengano.

Medo de que Lula acabe sendo tão somente um Judas em Sábado de Aleluia – um espantalho que nos deram para malhar nossas derrotas e frustrações e … preconceitos – nós, os que não vamos a missa. Depois da Semana Santa, pagaremos o pato… o pato amarelo do patrão.

Não sei se você me entendeu, mas sou um eterno desconfiado – é essa mineira em carcaça de paulista – e, se já desconfio de patrão que paga cachaça, quanto mais de patrão que financia protesto contra imposto sindical ou contra a corrupção.

 

Você diz que não tem corrupto favorito e quer que sejam todos presos. Eu acredito e tenho medo. Medo de que essa sua indignação cívica e justa seja somente um vírus oportunista – eles são sempre oportunistas – um resfriado que dure uma semana e depois te torne resistente. E se essa sua indignação tornar-se somente um mal-estar passageiro – você, já resistente, não se indignaria mais.

Você diz que não tem corrupto favorito e quer que sejam todos presos. Eu acredito e tenho medo. Medo de que essa sua indignação cívica e justa seja somente efeito da tal cachaça paga pelo patrão e que – depois da euforia que as cachaças e os linchamentos causam – você acorde de ressaca sem ânimo para continuar na luta.

Não sejamos ingênuos – só um ingênuo diria e acreditaria em si dizendo “não tenho corrupto favorito, que vão para cadeia todos”. Os ingênuos acreditam que perder e ganhar faz parte do jogo, mesmo quando jogam contra adversários que trazem nas mangas cartas marcadas. Você não escolhe seus corruptos – há quem os escolhe por você.

Ao invés disso, lembremos do ensinamento de Stanislaw Ponte Preta e digamos: “restaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos”. Irônico e dolorido – mas realista. “Restaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos

Fonte: Pragmatismo Político


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Leia a – Edição Nº 81


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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