Casos de racismo e intolerância religiosa crescem no Brasil

Casos de e intolerância religiosa crescem 17.000% desde 2009 no

Os dados apontam que os tribunais dos 26 estados e do Distrito Federal receberam 74.613 ações sobre racismo e intolerância religiosa no último ano

Por Mídia Ninja

Em 2023, os tribunais brasileiros enfrentaram uma enxurrada de processos judiciais relacionados a casos de racismo e intolerância religiosa, totalizando impressionantes 176.055 ações, de acordo com um levantamento realizado pela startup JusRacial. A análise não apenas revela a crescente preocupação com essas questões na , mas também destaca a complexidade desses desafios em diferentes esferas judiciais.

Expansão das ações nos tribunais

Os dados apontam que os tribunais dos 26 estados e do Distrito Federal receberam 74.613 ações sobre racismo e intolerância religiosa no último ano. Contudo, o que chama a atenção é a presença expressiva dessas questões nas instâncias superiores. O Superior Tribunal de (STJ) registrou 4.292 casos, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu 1.907 processos, evidenciando a abrangência desses temas em todos os níveis do sistema judiciário.

Desafios no ambiente profissional

Uma surpresa no levantamento foi a destacada presença dessas práticas nos locais de , com mais de 64 mil processos em tramitação nos Tribunais Regionais do Trabalho e outros 11.147 no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Isso aponta para a urgente necessidade de atenção às questões raciais e religiosas no ambiente profissional, evidenciando desafios que vão além das esferas tradicionalmente analisadas.

Comparando os números de 2023 com o levantamento de 2009, que registrava 1.011 casos semelhantes, houve um aumento surpreendente de mais de 17.000% nos processos por racismo e intolerância. Para Hédio Jr., fundador da JusRacial e coordenador do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro), esse crescimento está relacionado à da transfobia e homofobia como crimes de racismo, mas também à conscientização crescente das vítimas e à colocação cada vez mais destacada desses temas na agenda pública.

Hédio Silva Jr. destaca que o aumento nos conflitos judiciais decorrentes de racismo e intolerância religiosa está intrinsecamente ligado à ampliação da consciência das vítimas e ao espaço significativo que essas questões ocupam na agenda pública. Ele ressalta também a contribuição crucial da geração de jovens advogados negros, formados por meio de ações afirmativas, que estão desempenhando um papel vital na busca por justiça e igualdade.

Fonte: Mídia Ninja Capa: Jornal da USP com imagens de Pixabay e Mídia Ninja


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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