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Planalto Central: Contando nossa História

Planalto Central: Contando nossa História

Planalto Central: Contando nossa História

O primeiro órgão de imprensa do Brasil Central foi o jornal “A Matutina Meiapontense”, que surgiu em 5 de março de 1830 e durou até fins de 1834. Seu objetivo maior era divulgar o que se fazia na região, ou seja, informar a gente daqui sobre o que aqui se passava.

Por Jaime Sautchuk

Transcorridos 150 anos, em outubro de 2014 surge a revista “Xapuri” numa homenagem a um povo que “veio antes”, os extintos Chapurys, de uma região ainda mais a oeste do Brasil, que naquela época ainda era território espanhol, e hoje é o estado do Acre.

Os cenários humanos e naturais de toda essa vasta região mudaram profundamente nesse século e meio. Já então, quando “A Meiapontense” surgiu, o ouro dos rios e barrancas da região havia se exaurido. O ciclo aurífero iniciado com a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera II, na década de 1720, havia deixado um rastro de riqueza e opulência e duras marcas de agressão ao meio ambiente.

A garimpagem começava nos cursos d’água e ia avançando nas barrancas, muitas vezes formando enormes crateras, com desvio do próprio leito de córregos. Mas, de qualquer modo, havia ficado muita natureza intocada, em convívio com uma sociedade que seguia em frente, sem mais depender do precioso metal, mas apegada a agropecuária, ao comércio, ao artesanato e aos serviços.

De fato, desde o século 16, aventureiros e missões jesuíticas percorreram a região, principalmente à caça de índios. Na medida em que as populações indígenas iam escasseando no litoral, mão de obra escrava teria que ser buscada nos sertões do Planalto Central ou trazida da África.

Já nos anos de 1590 a 1593, a expedição de Antônio Macedo e Domingos Luis Grou percorreu vastas extensões do que viria a ser Goiás, mas restringiu-se à parte leste do rio Tocantins.

Os primeiros habitantes da região, claro, eram os índios. No caso, da etnia Macro-gê, diferente das existentes no litoral brasileiro, a maior das quais era a Tupi, que ficou ainda maior ao se juntar com a Guarani. Depois, vieram os brancos e os negros trazidos da África por comerciantes ou pela corte portuguesa.

Os brancos chegaram inicialmente com as expedições para o interior do País, chamadas de “bandeiras” ou “entradas”, de acordo com sua forma de organização. As primeiras tinham ajuste com a Coroa Portuguesa, enquanto as outras eram totalmente privadas.

Uma parte desses viajantes acabava ficando por ali. E, com os anos, a farta distribuição de terras das sesmarias levou gente de todo o canto para criar fazendas. Ou tentar enricar com ouro e pedras preciosas, escravização de índios e comércio de couros ou outros produtos tirados da flora e fauna locais.

A maioria dos brancos que chegavam era de homens solteiros, que muitas vezes se casavam com índias. O mesmo ocorria com os escravos negros, homens e mulheres, que tantas vezes também levavam o contato com índios e índias para o lado do amor e do sexo, e assim surgiam crianças diferentes.

A mistura dessas três raças básicas gerou ao longo dos séculos esse ser humano dos cerrados do Planalto Central do Brasil. É gente de pele marrom, de coloração diversa das outras. Nem tão avermelhada quanto a do índio, nem tão escura quanto a do negro, nem tão clara quanto a do português. É a cor do cerratense, o homem do Cerrado, a mulher do Cerrado.
Nesse processo, num curto espaço de tempo, brotaram também classes humanas diferenciadas a partir de seu papel na economia – uns controlando os meios de produção, outros para eles trabalhando. Ou buscando refúgios em nesgas de chão e em serviços na área urbana, que incluíam biscates e empregos domésticos.

Esses primeiros aglomerados formaram as Minas dos Goyazes, que é como a Capitania de Goiás era chamada no primeiro século de sua ocupação pelo colonizador, quando a região fazia parte de São Paulo, no Brasil Colônia. No período imperial, passou a se chamar Província de Goiás e, na República, Estado de Goiás.

O primeiro aglomerado de Goiás foi o arraial de Sant’Anna, localizado próximo às nascentes do Rio Vermelho, junto à Serra Dourada. Algum tempo depois, foi batizado de Vila Boa da Santíssima Trindade e, mais tarde, cidade de Goiás. Foi transformado em capital, situação em que permaneceu até o início da construção de Goiânia, em 1933.

Há, no entanto, muitos indícios de que aqueles então novos arraiais já eram palco de garimpagem desde 1711.

Cuiabá, hoje capital do Mato Grosso, no extremo oeste, surgiu na mesma época, também motivada pela descoberta de ouro. Além da garimpagem, havia outro motivo para o adentramento, que era a determinação da Coroa para que as fronteiras portuguesas fossem levadas sempre mais a oeste da linha definida pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494.

Isso, enfim, dá uma breve ideia do que foi o início da ocupação desses sertões do Brasil. Este, aliás, será um tema permanente na revista “Xapuri”

Publicado originalmente em 16 de julho de 2021


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 
 
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