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Chimamanda Ngozi Adichie: Um novo comportamento

Chimamanda Ngozi Adichie : Um discurso, um ensinamento, um novo comportamento (Sejamos Todos Feministas, Sejamos Todas Feministas)

“Nossas histórias se agarram a nós. Somos moldados pelo lugar de onde viemos”.

Para tratarmos de (des) igualdade de gênero e de uma escritora que se insere na linha do empoderamento da mulher e do , há que se fazer uma diferença entre o que seja feminismo e machismo. Podemos definir, em linhas rasas:

Feminismo: Feminismo NÃO é o oposto de machismo. Feminismo é o coletivo de mulheres com autonomia, conscientes, que lutam por uma sociedade justa e igualitária, onde nenhuma mulher deveria sofrer retaliação por ser mulher.

O Feminismo não dissemina o ódio e não apregoa e nem quer a dominação das mulheres sobre os homens. Quer somente a sonhada igualdade, o fim da dominação de um gênero sobre outro. Feminismo não é o contrário de machismo. Inclusive, muitos homens podem e devem ser feministas.

Machismo: É um sistema de dominação que vem sendo difundido e mantido pelo sistema patriarcal e arcaico. É um movimento sexista onde se pressupõe a valorização do macho. É um movimento de repressão e repúdio aos direitos igualitários entre homens e mulheres.

Chimamanda Ngozi Adichie é escritora nigeriana, nascida em Enugu, em 15 de setembro de 1977, há quase 40 anos, linda, encantadora e fascinante, que vem se destacando por sua postura como escritora e feminista.

No discurso de formatura em 2015, na Faculdade Wellesley, tradicionalmente liberal para mulheres estadunidenses, situada em Massachusetts e que funciona desde 1875, como “Madrinha da Turma”, Chimamanda fez mais um de seus famosos discursos, como o que pronunciou no TED Conference que foi transformado em livro: Sejamos Todos Feministas.

O TED (Technology Entertainment and Design – Tecnologia Entretenimento e Design) é um grupo não partidário que tem por finalidade difundir conversas rápidas, temas conflituosos e modernos. A faculdade em questão promove uma voltada para deixar ao mundo mulheres fortes, criativas, decisivas e que possam fazer diferença e contribuir com o e no espaço em que vivem e atuam.

Chimamanda é autora de diversos livros, entre eles: Hibisco Roxo, Meio Sol Amarelo e Americanah. Já ganhou inúmeros prêmios literários, tendo seu trabalho traduzido para mais de 30 línguas. Atualmente, ela divide seu tempo entre os e a Nigéria.

No discurso de formatura, trouxe o tema: Sejamos Todos Feministas. Intrigante, porque em seu título nos coloca em condição de igualdade de gênero. Para iniciar, além de louvores às formandas, deu destaque ao importante papel da maquiagem e de seu poder de seduzir, primeiro, quem a usa, valorizando a autoestima, para expor seus mais recônditos encantos e, depois, para demonstrar que o mundo machista se impressiona e viu nessa atitude de maquiar-se, também, uma forma de fazer-se ouvida.

Segundo a própria Chimamanda, ela se considera “uma feminista feliz e africana que não odeia homens e usa batom para si mesma, não para os homens”. Inicialmente utilizou-se deste artifício para impressionar e questionar um costume da tradicional Igbo que permite que apenas os homens possam quebrar a noz-de-cola, porque traduz, metaforicamente, a força africana.

A cultura Igbo possui práticas e costumes arcaicos do Sudeste da Nigéria, acrescida por novos conceitos evolutivos e por influência externa. Esses costumes e tradições do povo Igbo incluem artes visuais, música e formas de danças, vestimentas, culinária e idioma (dialetos). Quebrar a noz contém uma simbologia importante e representativa na cultura Igbo. Desafiando os costumes, Chimamanda alegou que essa honraria deveria ser por mérito e não adquirida e possuída pelo gênero masculino.

Bom, naquele contexto, Chimamanda não foi ouvida, mas aprendeu que a maquiagem ajuda a compor cenários efêmeros. Para Chimamanda, é importante que comecemos a planejar e a sonhar um mundo igual e mais justo. Um mundo de homens e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E devemos começar criando nossas filhas e nossos filhos de uma maneira diferente.

Também não foi nesse momento que Chimamanda descobriu as injustiças de gênero. Como mulher, inteligente e preta, desde a infância sofria e não entendia as diferenças entre esses dois mundos que são opostos e que deveriam ser um.

Aos homens, regalias; às mulheres, a condição de seres menos privilegiados. Chimamanda nasceu e cresceu em família instruída. Tinha o privilégio de classe, não o de gênero. Um pensamento claro de Chimamanda é de que o privilégio cega e para se considerar igual e enxergar as coisas, os momentos e situações com clareza, é preciso colocar o privilégio de lado.

Herdou da mãe, que se aposentou como a primeira escrivã mulher da Universidade da Nigéria, um grande feito na época, a impetuosidade feminista. E aprendeu mais, a questão de gênero é sempre efetivada, sempre, sobre um contexto e uma circunstância.

E nos ensina que a força das mulheres não deve ser descrita como excepcional, mas como normal. Que a vulnerabilidade é humana e não feminina. Chimamanda aprendeu sobre ser feminista na prática da vida e passou a carregar, confiantemente, este rótulo.

Suas ideias foram levadas ao topo do estilo musical R&B – Rythim and Blues pelos EUA e mundo afora e alcançou extrema visibilidade. Em seus versos, em Flawless (Sem Defeito) Beyoncé traduz, a seu modo, inspirada em Chimamanda, o que se espera dessa nova mulher: (…) Nós ensinamos as meninas a se retraírem para diminuí-las/Nós dizemos para as garotas/ Você pode ter ambição/mas não muita/ Você pode ser bem sucedida/Mas não muito/ Caso contrário você ameaçará o homem(…)”

Chimamanda teve muita sorte, tornou-se escritora bem-sucedida, e sua escrita possibilitou-lhe falar sobre assuntos importantes para ela. Algumas pessoas não veem com bons olhos estes temas, mas a grande maioria entendeu seu forte recado, sobre sua posição a respeito dos direitos dos homossexuais no continente africano e sobre a sua crença na absoluta igualdade entre homens e mulheres.

Chimamanda deixa em seus livros e discursos importantes reflexões para homens e mulheres da sociedade atual: “A história sozinha cria estereótipos, e o problema com estereótipos é que não é que eles não são verdadeiros, mas que eles são incompletos. Eles fazem uma história se tornar a única história.”

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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