Claudia Andujar: Os Yanomami em minha vida
“A vida dos Yanomami não se limita mais às longas estadas e viagens na floresta, noites repletas de conversas e discursos na grande maloca comunitária, sob o luar de milhares de estrelas. Hoje incorporam à sua vida a escola bilíngue, as assembleias indígenas, os imensos problemas causados pela invasão garimpeira e suas consequências, as doenças.” “Claudia Andujar: a vulnerabilidade do ser”, 2005.
Por Claudia Andujar
Minha relação com os Yanomami, fio condutor de minha trajetória de fotógrafa e de vida, é essencialmente afetiva. Esse sentimento, ao longo do tempo, levou-me a compartilhar meu tempo de fotógrafa com atividades em defesa dos direitos territoriais e de sobrevivência desse povo. Uma tarefa árdua e que requer muita perseverança.
Nos anos [19]70 e 80, passei muito tempo entre eles. Desenvolvi um trabalho intimista sobre seu cotidiano. Agora, depois de quase duas décadas de empenho quase exclusivo na defesa de seus direitos, sinto a necessidade de me abstrair e sintetizar esse trabalho fotográfico que vivenciei tão intensamente.
Procuro apresentar o sentido de compromisso e lealdade que perpassa toda a minha relação com eles (…). Faço como os Yanomami, que estão elaborando seus mitos, justificando-os, retrabalhando continuamente a oralidade de sua história, para ajustá-la ao novo, aos tempos de hoje.
A adaptação de uma cultura como aquela dos Yanomami, um povo de recém-contato com um mundo que não é deles, é um processo delicado e lento, é um repensar do sentido do universo e da vida.
Claudia Andujar – Fotógrafa. Nascida na Suíça, em 1931. Perdeu o pai nos campos de concentração do nazismo. Em 1948, imigrou para Nova York, onde estudou Humanidades. Chegou a São Paulo em 1955. Naturalizou-se brasileira em 1976. Entrou em contato com os indígenas pela primeira vez em 1958, na ilha do Bananal, terra dos Karajá, por sugestão de Darcy Ribeiro. Entre 1966 e 1971, colaborou com a revista Realidade. Em 1971, uma edição especial da revista Realidade sobre a Amazônia a conduziu até os Yanomami. Em 1978, após ser enquadrada na lei de Segurança Nacional pelo governo militar e ser expulsa do território indígena pela Funai, retornou a São Paulo e organizou um grupo de estudos em defesa da criação de uma área indígena Yanomami. Esse foi o embrião da ONG Comissão pela Criação do Parque Yanomami, CCPY (depois denominada Comissão Pró-Yanomami), criada por Claudia e pelo missionário leigo italiano Carlo Zacquini, que denunciou as ameaças à sobrevivência dos indígenas, em consequência do contato com os brancos, e promoveu uma forte campanha pela demarcação da terra indígena Yanomami, que finalmente ocorreu em 1992. (Fonte: Wikipedia). O texto de Claudia faz parte do livro “Claudia Andujar: a vulnerabilidade do ser”, 2015. Foto de Capa: Acervo Claudia Andujar.