Eliseu Queres, primeiro trabalhador rural assassinado em 2019 é registrada em Colniza, no Mato Grosso
“Das quase 200 famílias que lá estão sob a mira dos pistoleiros na Fazenda Agropecuária Bauru, algumas são posseiras, outras compraram o direito de estar na terra, e já moram em seus lotes há algum tempo. Produzem e criam animais. São pessoas que apostaram no sonho de construir uma vida com o suor do trabalho. Não podemos deixar que mais um massacre aconteça, que mais uma violência aconteça a estas pessoas que já nasceram vulneráveis e que, por sua condição de pobreza, já nasceram em estado de exceção”, alertaram as entidades naquela data.
De acordo com testemunhas do conflito ocorrido nesta madrugada, o ataque aconteceu no momento em que algumas pessoas que ocupam a área da fazenda pegavam água na beira do rio Traíra, que é próximo ao acampamento onde estão as famílias. A CPT e o FDHT-MT estão acompanhando o caso. A expectativa é de agravamento dos conflitos na região.
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Posse
Segundo informa a CPT do Mato Grosso, a área do conflito, conhecida como Fazenda Magali, se encontra em uma grande gleba de terras da União, pelas quais as famílias já solicitaram a arrecadação para ser destinada à reforma agrária. A região é alvo de disputa entre os antigos grileiros e o ex-deputado estadual José Riva (PP), em sociedade com o ex-governador Sinval Barbosa (PMDB, 2010–2014), que supostamente adquiriram parte dessa área com dinheiro de desvios do erário público.
“Há alguns meses vários trabalhadores foram ameaçados, pelo próprio ex-deputado, pelos capangas fortemente armados que ele colocou na fazenda, que diuturnamente ameaçavam as famílias no acampamento, efetuando disparos de armas de grosso calibre, inclusive fuzis, e fogos de artifícios, na intenção de incendiar os barracos”, diz nota pública da CPT, publicada neste sábado.
A entidade relata que a ameaça de conflito na Magali foram denunciados amplamente para o governo do Mato Grosso, com conhecimento para o Ministério Público Federal, a Ordem dos Advogados do Brasil e Assembleia Legislativa do estado, solicitando medidas para conter a violência.
“O fato de as famílias terem cumprido a decisão judicial da Vara Agrária, em Ação possessória, e terem mudado o acampamento de local não foi suficiente para garantir sua segurança. Hoje pela manhã quando um grupo pequeno de trabalhadores se dirigia à estrada de acesso para irem ao Rio Traíra para buscar água, foram surpreendidos pelos seguranças armados, sendo alvejados vil e covardemente. Os trabalhadores denunciam que a Polícia Militar não queria sequer deixar o SAMU ir buscar as vítimas no local da tragédia e, inicialmente se negou a ir ao local também”, relata ainda a Comissão Pastoral da Terra.
Choque
O relatório Conflitos no Campo, publicado pela CPT, indica que a violência no campo aumentou drasticamente no Brasil, após o golpe parlamentar de 2016 –a cada cinco dias uma pessoa é assassinada por conflitos agrários. Em 2017, o número de assassinatos registrados foi o maior desde 2003, com 71 trabalhadores e trabalhadoras rurais mortos.
Colniza
A Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) divulgou um estudo, em 2004, que apontava Colniza como a cidade mais violenta do Brasil. A cidade, que fica distante 1,2 mil quilômetros de Cuiabá, chegou a registrar 165,3 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes – o mais alto índice de homicídios do Brasil. O principal motivo das mortes são os conflitos gerados por questões agrárias, exploração de madeira e minérios.
No dia 19 de abril de 2017, nove trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados no Projeto de Assentamento Taquaruçu do Norte, em Colniza. Muitos foram surpreendidos enquanto trabalhavam na terra ou dentro de seus barracos. Foram mortos a tiros e por golpes de facão. De acordo com a perícia houve tortura. Vários corpos estavam amarrados e dois foram degolados.
Os assassinatos marcaram o início de uma série de massacres no campo em 2017. Dos 71 assassinatos registrados pela CPT, em 2017, 28 ocorreram em massacres.
Devido ao grande número de assassinatos, a pastoral tornou público os registros de massacres no campo dos últimos 32 anos.
Fonte: redebrasilatual
Foto: Divulgação
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