Contag celebra 60 anos de luta pela reforma agrária

Contag celebra 60 anos de luta pela reforma agrária

Criada em 20 de dezembro de 1963, Contag foi a primeira entidade sindical camponesa nacional reconhecida legalmente e se destaca pela defesa dos direitos dos agricultores brasileiros

Por Priscila Lobregatte/Portal Vermelho

A Confederação Nacional dos Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) completa, no próximo dia 20 de dezembro, 60 anos de luta pelos direitos dessa categoria fundamental para o país, pelo acesso à terra e à igualdade. Para celebrar esse marco, foi realizada uma sessão solene nesta terça-feira (28), na Câmara dos Deputados. 

“O cenário de fundação da Contag era de ausência de Estado brasileiro para os homens e mulheres do campo. Quando o Estado chegava, era através da repressão da luta pela terra e por direitos”, disse Aristides Santos, presidente da Contag, durante a sessão.

Ele lembrou que a entidade nasceu da união de diversas forças, como as Ligas Camponesas, sindicatos, associações de lavradores e federações, entre outras. “A Contag representa os sonhos e a luta de muitos homens e mulheres do campo e de várias organizações”, completou. 

O deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA), vice-líder do governo Lula,  destacou que são “60 anos de história e de muita luta e — estas são as marca da Contag, dos trabalhadores do campo”. Ele lembrou que a entidade foi criada meses antes do golpe militar de 1964 que tinha, entre seus objetivos, acabar com a democracia e com as reformas de base, entre elas a agrária. 

“Somos um dos poucos países do planeta que não fez a reforma agrária e este é um dos motivos de tanto atraso. É inadmissível que, ainda hoje, tenhamos tanta gente passando fome, inclusive no campo, quando temos o potencial de produzir todos os alimentos necessários para os brasileiros e para parte do mundo. Este é um dos desafios que devemos enfrentar”, acrescentou. 

Frutos da resistência

Ao Portal Vermelho, a secretária de Mulheres da Contag, Mazé Morais, salientou que essa celebração “é muito significativa para todas nós, mulheres do campo, da e das águas que sempre estivemos na luta desses movimentos, mas que tivemos nossa história muitas vezes invisibilizada”. 

Durante todo esse período de 60 anos, disse, “tivemos muitas adversidades, mas mesmo assim eu acho que o Contag fez brotar a , o espírito de combate e a integração entre nós, que fazemos a agricultura familiar e que sempre acreditamos na luta e na possibilidade da vitória. Nossa resistência, nossa coragem, nos trouxeram até aqui. Aliás, em muitos momentos, nesses 60 anos de história, resistir era a única alternativa que a gente tinha”. 

Ele lembrou como alguns dos principais legados da Contag a Marcha das Margaridas, o Grito da Terra e o Festival da Juventude. Além disso, apontou, “o movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais, sob a coordenação da Contag, apresentou proposições para o enfrentamento das principais questões que desafiam o Brasil, como a erradicação da fome, as injustiças climáticas, a ambiental, a e a desigualdade social”. 

Para ela, “enquanto os trabalhadores rurais não tiverem terra, enquanto a agricultura familiar não for fortalecida, não tem como a gente conquistar um país livre da fome. Por outro lado, quando a gente tem uma agricultura familiar forte, a organização da produção, conseguimos ter um país com menos desigualdades e violência”. 

História de lutas

Fundada em 20 de dezembro de 1963, a Contag foi a primeira entidade sindical camponesa de caráter nacional reconhecida legalmente. Atualmente, coordena um sistema composto por 27 federações estaduais e mais de quatro mil sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, representando a luta pela garantia, manutenção e ampliação de direitos de mais de 15 milhões de agricultores e agricultoras familiares, segundo o Censo Agropecuário de 2017. 

De acordo com a própria confederação, após a instauração da ditadura militar, a Contag sofreu intervenção e  “o presidente Lyndolpho e demais diretores foram presos imediatamente, o mesmo acontecendo com outras lideranças sindicais rurais nos estados e municípios. Algumas, inclusive, foram brutalmente torturadas e assassinadas”.

Os trabalhadores e trabalhadoras rurais voltaram a comandar a Contag sem interferência do regime militar em 1968 com a vitória do grupo liderado por José Francisco da Silva e foi acelerado o processo de organização e formação política sindical da categoria trabalhadora rural. 

Figuram entre suas principais bandeiras de luta o fortalecimento da agricultura familiar; o acesso à terra e a reforma agrária; as estruturantes; políticas sociais para o meio rural; paridade de gênero; sucessão rural; fortalecimento dos sujeitos do campo, e águas; agroecologia; preservação e ; combate à violência no campo e direitos dos assalariados rurais. 

Fonte: Portal Vermelho Capa: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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