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COP 28: países querem levantar R$ 20 bilhões para conservar manguezais

COP 28: países querem levantar R$ 20 bilhões para conservar manguezais

Brasil adere à meta global para restaurar e proteger 15 milhões de ha desses ecossistemas e interromper sua destruição, até o fim da década.

Por Aldem Bourscheit/O Eco

Cerca de oito em cada dez hectares (ha) da área brasileira de mangues está no litoral amazônico, mas essas formações chegam ao sul da costa atlântica, no município de Laguna (SC). Dali em diante, esses ecossistemas têm características naturais distintas e são chamados de marismas.

Como florestas fazendo pontes entre ambientes terrestres e marinhos, os mangues têm uma dinâmica natural arraigada ao sobe e desce das marés. Seus labirintos de troncos e raízes compõem ambientes onde inúmeros animais procriam, na segurança desses berçários à beira-mar.

Além de proteger a biodiversidade costeiro-marinha, crucial para atividades comerciais e extrativistas, os mangues guardam grande carga de gases de efeito estufa, reduzem erosões e outros estragos de tempestades e da subida do mar, defendem o litoral de poluentes e lixo trazidos por rios e chuvas.

Apesar de sua importância, metade dos manguezais já foi perdida globalmente. Urbanização, turismo, carcinicultura e obras de infraestrutura predatórias são os principais motores dessa destruição, arriscando a vida selvagem, populações e investimentos humanos.

“Em muitos locais, como Myanmar, Guiné-Bissau e Madagascar, perdemos mangues num ritmo alarmante e, com eles, a defesa costeira contra as alterações climáticas para milhões de pessoas”, disse Pieter van Eijk, diretor do Programa de Deltas e Costas da ong Wetlands International.

Tentando frear sua eliminação e assegurar os múltiplos serviços dos mangues, uma iniciativa global anunciada na COP 28, a 28a conferência do clima das Nações Unidas, em Dubai, elencou meios para levantar o equivalente a R$ 20 bilhões, até o fim desta década.“O evento destacou o papel único dos manguezais na aceleração da realização do Acordo de Paris (sobre clima) e da Estrutura Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal”, diz Ana Paula Prates, diretora do Departamento de Oceano e Gestão Costeira do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).

Numa Rede Social, Ana Prates confirmou a adesão do Brasil à iniciativa global para proteger esses ecossistemas, ao lado de uma lista crescente de outros governos nacionais, entidades civis, empresas, instituições financeiras e de pesquisa.

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Os mangues (verde) estão presentes em 117 países, onde cobrem cerca de 147 mil Km2, semelhantes à metade da área da Itália. Fonte: The State of the World’s Mangroves 2021

Os recursos devem ser investidos na proteção e restauração de 15 milhões de ha de mangues em diferentes pontos do globo, uma área similar a do estado do Ceará ou de Bangladesh. A mobilização pelos mangues consolidada nesta COP começou na conferência anterior, em novembro passado, no Egito.

O documento base da aliança pelos manguezais traz políticas, tecnologias e oportunidades para novos investimentos públicos e privados que apoiarão a manutenção e recuperação dos mangues, conta Razan Al Mubarak, alto responsável das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas na COP28.

“São necessários fluxos de longo prazo de capital público, privado e filantrópico para manter os mangues saudáveis e em pé, criar negócios e meios de subsistência positivos para a natureza e para as pessoas, e para regenerar e restaurar os mangues degradados”, ressalta o especialista.

Todavia, além de desbloquear dinheiro na escala necessária à proteção dos mangues, decisões políticas e técnicas sobre sua aplicação não podem ser tomadas isoladamente pelo setor político. Comunidades locais, indígenas, ongs são indispensáveis nas mesas de negociações.

“Este roteiro financeiro é uma mão orientadora. As suas recomendações são simultaneamente pragmáticas e ambiciosas, identificando oportunidades para reunir diversos actores em torno de uma direção de viagem partilhada e de prioridades conjuntas urgentes”, avalia Al Mubarak.

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Mangues abrigados no Parque Natural Municipal Barão de Mauá, em Magé (RJ). Foto? Tomaz Silva / Agência Brasil

De acordo com o guia de financiamento, 60% das perdas de manguezais desde o ano 2000 se devem a impactos humanos, sobremaneira pela produção de camarões, peixes, arroz e óleo de palma, mas inclusive de carvão.

A desenfreada destruição desses ambientes causará a emissão de avassaladoras quantidades de gases de efeito estufa. A perda de mais 1% dos mangues remanescentes no planeta pode liberar o equivalente à poluição anual de 50 milhões de automóveis.

Por outro lado, se forem restaurados ao menos 800 mil ha de mangues no planeta, 350 milhões de toneladas de Dióxido de Carbono (CO2) seriam capturadas. 

No Brasil, 1.700 ha de mangues e restingas nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul devem ser recuperados com R$ 47,3 milhões, protegendo a biodiversidade e o litoral da crise climática. O dinheiro é do BNDES e da Petrobras.

Milhões de pessoas igualmente serão afetadas pela perda de mangues, especialmente comunidades costeiras e indígenas em pequenas nações insulares, onde estão 11% dos mangues planetários. Além disso, os gastos anuais com inundações crescerão US$ 65 bilhões.

Quanto à riqueza da vida selvagem, as perdas globais de mangues arriscam diretamente 1.500 espécies costeiro-marinhas. Dessas, 341 já estão ameaçadas de extinção. Com informações da UNFCCC Climate Champions.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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