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CORDEL DO CERRADO

CORDEL DO CERRADO

Cordel do Cerrado

Por Gustavo Dourado

Cerrado.Caatininga
Caatanduva, Cerradão
O Campo Limpo e o Cerrado
A savana do Sertão
O bioma planaltino
No altiplano da nação

Cerrado da Calliandra
Das matas de galeria
Mata ciliar e seca
Sempre-viva à luz do dia
Campos sujos, cerradões
Mil veredas da poesia

O rupestre, denso, ralo
Murundus e palmeiral
Guerobas e babaçus
Macaúba, buritizal
Do típico seco e úmido
Vertem o Planalto Central

O fitobiogeográfico
Bioma monumental
No Brasil e Paraguai
E no Planalto Central
O domínio do cerrado
Forma vegetacional

Bioma: savana e campo
A floresta estacional
Tocantins, , Bahia
Minas e Brasil Central
Mato Grosso, Sul e Norte
E Distrito Federal

Martius, Warming e Löfgren
Usam terminologia
Mesotrófico e distrófico
Cerradão se anuncia
No Grande Sertão: Veredas
O cerrado tem magia

Chapadão do São Francisco
Planalto Central Goiano
Sertões de Paracatu
E até no sertão baiano
Araguaia Tocantins
E o Alto Paranaibano

Complexo da Bodoquena
A depressão cuiabana
O Bico do Papagaio
E a Província Serrana
Depressão do Parnaguá
Vastidão araguaiana

Paranapanema Grande
Chiquitânia, Bananal
Parecis e Grão-Mogol
Todo o Planalto Central
Brasília, Flor do Cerrado
mundial

Florística cerratense
A mata estacional
O cerrado filocórnio
Tipo vegetacional
Pulsa com sua alquimia
Por todo Brasil Central

Murunduns, Campo
gia-mãe
Dia e noite no cerrado
Miragens, meio do mato
O morro malassombrado
Hidrágua, Águas Emendadas
No sertão planaltinado

Pequis, ipês, ribeirões
Miríades de vegetais
Os buritis na paisagem
Sombreiam os animais
Solidão ensimesmada
No abismo dos capinzais

Cerrado de tantas serras
Chapadas e chapadões
Bisnau, Canastra, Cipó
Veredas e cerradões
Imperial e Veadeiros
Chapada dos Guimarães

Campo-Limpo do Cerrado
Cerrado de
A savana florestada
Ralo, denso, covoal
Campo sujo de cerrado
Verdeja o buritizal

A amplidão do Cerrado
Por todo o Brasil Central
Mato Grosso e o do Sul
Maranhão, DF Legal
Bahia, Piauí, Tocantins
Em Minas, no veredal

Ecossistema cerrado
De complexa formação
Florestas de galeria
Diversa vegetação
O cerrado do Brasil
Campestre na vastidão

Biodiversidade alta
Queimadas, desmatamento
A pecuária intensiva
Cada vez mais crescimento
Soja e arroz, carvoaria
Haja desenvolvimento

Sagui, anta e tatu
Raposa e lobo-guará
Nhambu, veado e perdiz
Foram pra banda de lá
, erosão e morte
Vieram de lá pra cá

e rodovias
Atuação madeireira
As altas temperaturas
O calor na dianteira
Com a baixa umidade
Sempre há uma fogueira

Clima quente, chuva e seca
40º graus,
primavera
O inverno sempre seco
Fica a chuva na espera
25 graus é a média
Uma seca atmosfera

Raízes longas, torcidas
Gramíneas em profusão
Árvores falhas, arbustos
Na seca tem combustão
Tem incêndios criminosos
O fogo entra em ação

Bem mais de mil milímetros
Média precipitação
Dezembro e janeiro chove
Faz a multiplicação
Esverdejado cerrado
Foge a seca do sertão

A estiagem é bem forte
A seca avassaladora
Ressequimento do solo
Sem água para a lavoura
A pele da gente seca
Nossa garganta estoura

Trópico clima sazonal
Chuva de outubro a abril
Seca de maio a setembro
Coração do meu Brasil
Tem da chuva
Desejos a mais de mil

Tem água sempre presente
A pouca profundidade
Água brota no cerrado
Verte em boa quantidade
Mas o homem gasta muito
Provoca adversidade

Destruição do cerrado
Por cidades, plantações
Expansão do agronegócio
Diversas contradições
Ecossistemas,
Veredas nos cerradões

Cerrado, sujo, rupestre
Secura, parque cerrado
Tem calor e veranico
A natura dá o brado
Soja devasta o mato
Com o fogo, trator, arado

O cerrado dos arbustos
Araticum e lobeira
Ipês de diversos tipos
Variáveis de madeira
Pitanga, mama-cadela
Pata-de-vaca e figueira

A pimenta-de-macaco
A brejaúba e o buriti
Guariroba e babaçu
Angico e bacupari
Aroeira e macaúba
O marmeleiro e pequi

Baru, jussara, araçá
Tamboril e gameleira
Tem o capitão-do-mato
O manjoleiro e paineira
Umbaúba, guatambu
Mulungu e quaresmeira

Guapeva, veludo-branco
Marmelinho e gravatá
Cajuzinho e assa-peixe
Mangaba com jatobá
Vinhático, -pobre
Variedades de ingá

Tem algodão-do-cerrado
Pororoca, bromeliácias
Tem o pau-ferro e pau-
O rareio das cactáceas
Jenipapo, café bugre
Gramíneas com orquidácias

Xenatros tem com abundância
Marsupiais, mustelídeos
Tem roedores e quirópteros
Primatas e procionídeos
Cervídeos e ungulados
Tem felídeos e canídeos

Abelhas, vespas, cupins
Pintada, gato-palheiro
Mico, cachorro-do-mato
Queixada, veado-campeiro
Cotia, raposa-do-campo
Macaco-prego, mateiro

Falcão-de-peito-vermelho
Macaco-aranha, saguí
O canastra, tatu-bola
Capivara, tapiti
Tem caititu, preá, anta
A cobra, paca, quati

Cuíca e porco-espinho
Preguiça e tamanduá
Ariranha, jaritataca
Jaguatirica, gambá
Lontra, irara e morcego
E o nosso lobo-guará

Ação humana no Cerrado
Tem o risco de extinção
Animais correm perigo
Fogo, morte, exploração
Natureza devastada
Grave degeneração

Muitas aves tão diversas
Viví, sabiá-laranjeira
Seriema, curicaca
Tem marreca-caneleira
Águia-cinzenta e tucano
A gralha, garça-campeira

Pomba-asa-branca, irerê
Sabiá e
beija-flor
Anu-branco e
anu-preto
Mergulhão, seu corredor
O picasso, bico-roxo
E o canário cantador

O andarilho, codorna
Periquito, bem-te-vi
A garrincha, saracura
João-de-barro, suriri
Papagaio-verdadeiro
Quero-quero e colibri

Marreca-cabocla, sai
Anhuma, garça, banhado
Guaxo, beija-flor-tesoura
Pássaro-preto afamado
Com a marreca ananaí
Querem bioma equilibrado

Sob o calor do Cerrado
Com a sequidão da agrura
Boa chuva se prenuncia
Eleva a temperatura
Com a chuva brota vida
Amor aquece a ternura

Quase clima de deserto
Carcome a atmosfera
O sertão na sua agrura
A seca nos desespera
Os pássaros pedem água
Com as flores da primavera

Já sinto cheiro da chuva
A seca logo se esvai
Apagar o fogo ardente
Tão bailarina, a água cai
Leve a seca para longe
Que as nossas vidas, aguai

As nuvens dançam balé
Relambeijam a umidade
Há muito tempo não chove
Chuva vem leve saudade
Com seus pingos de alegria
Nos dê sua vivacidade

Mil espécies de animais
No ambiente do Cerrado
Aves, répteis e anfíbios
No espaço modificado
Com moluscos e insetos
Do mundo invertebrado

Espécies de borboletas
Lepidóptera visão
As flores, aves e pássaros
O Cerrado em profusão
Grito da mãe natureza
No Planalto da Nação

Manoel da natureza
Foi poeta da humildade
São Francisco em seu olhar
Com arte e naturalidade
O cosmo na sua linguagem
Despertou vivacidade

Cheiro solar no
Lagartixa e sapoal
Lesmas, rãs e caramujos
Mistérios do vegetal
As formigas, as aranhas
Jacarés do Pantanal

Venda, fazenda de gado
Vacas, éguas, humanimais
Garças, rãs, aves e flores
Árvores monumentais
Tatus, antas, capivaras
As onças e os marruais

O Goiás do Anhanguera
E de Cora Coralina 
Bernardo Élis, Santa Dica
De Itiquira, Cristalina
Da Serra dos Pirineus
Do Cerrado que ilumina

Goiás Velho; Pirenópolis
De Anápolis e Catalão
Paraíso, Luziânia
No altiplano da Nação
Formosa e Planaltina
Goiânia do coração

Nova Roma, Cavalcante
Morrinhos e Petrolina
As termas de Caldas Novas
Verve bem esmeraldina
Trindade, Itumbiara
Jaraguá e Pontalina

Araguaia e Tocantins
Nas águas a transbordar
Em Jataí e Rio Verde
Prosperidade a brotar
Nos garimpos de Goiás
O bom ouro pra transmutar

Ceres e Padre Bernardo
Paraúna e Abadiânia
Piracanjuba e Rialma
Ipameri e Silvânia
Cidade Edeia e Vianópolis
Em Jandira e Alexânia

Em Palmeiras de Goiás
Águas Lindas e Minaçú
Itaberaí, Indiara
Uruana e Uruaçu
Goianira e Niquelândia
Iporá e Campinaçu

Posse, Alvorada do Norte
Anicuns e Quirinópolis
Aragarças, Cabeceiras
Aruanã e Serranópolis
Aporé e e Porangatu
Em Inhumas, Amorinópois

Hugo de Carvalho Ramos
A escrita consciente
As veredas da palavra
Que umedecem nossa gente
Goianésia, Goiandira
Goiatuba de repente

Aparecida, Goiânia
Rio Vermelho e Maranhão
Corumbá e Meia Ponte
Paranã na imensidão
Preto, Crixás e Areias
Goiás, alma do sertão

Vale da Lua, mistérios
A Chapada em sintonia
Luz, espiritualidade
Estrelas em sinfonia
Natura em equilíbrio
No coração da poesia

Natureza, cachoeiras
Vida bem familiar
Na fazenda, pai e filho
Sol a nos iluminar
Os animais e as plantas
Muita história pra contar

Aqui tudo é bom demais
Há pouca tecnologia
Tudo é menos complicado
Germinamor alegria
A natureza está na gente
Se vive mais harmonia

Aqui é o chakra da Terra
Do mundo é o coração
Geologia bem antiga
De alta elaboração
Presença da divindade
No Planalto da Nação

Árvores ressequidas clamam
Chamam pela umidade
O homem esquenta o clima
Sofre na adversidade
Preservemos o Cerrado
Para a vida ter qualidade

Gustavo Dourado – escritor, poeta e cordelista.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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