Coronavírus: Cultura conquista subsídio para artistas de Formosa
Por uma iniciativa do Conselho Municipal de Cultura, artistas de Formosa em situação de vulnerabilidade por conta da crise e do desemprego gerados pela pandemia do coronavírus, receberão um auxílio emergencial de R$ 1.500, escalonado em três parcelas de R$ 500, nos temos propostos pelo Conselho em projeto encaminhado ao Executivo Municipal.
Na última quarta-feira, 13 de maio, a Câmara Municipal de Formosa aprovou por unanimidade, em sessão extraordinária, o PL 10/20, encaminhado pelo Executivo. O projeto custará R$ 69 mil reais, que serão pagos com recursos do Fundo Municipal de Cultura, e beneficirá 46 artistas formosenses, selecionados mediante preenchimento de mapeamento socioeconômico, realizado pelo Conselho Municipal de Cutlura, que recebeu mais de 100 inscrições.
Segundo o diretor de projetos do Conselho, Nicholas Xavier, artista militante do Coletivo Vivarte, para a seleção serão observados os critérios divulgadas pela internet, que incluem, dentre outros, tempo de moradia na cidade (mínimo de um ano), rendimento médio antes da pandemia, e condições socioeconômicas familiares. O objetivo maior, segundo Nicolas, é expressar solidariedade para com as pessoas da classe artística em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Presidido por Geraldo Araújo, o Conselho Municipal de Cultura de Formosa, em vigência desde 2011, resultou de uma longa mobilização da classe artística e da sociedade civil formosense, sobretudo por meio do Fórum Municipal de Cultura, no ano de 2010, sob a liderança do saudoso George Leal Diab, o Dod do Bonito, para sempre uma saudade.
O Conselho Municipal de Cultura, por meio do Fundo Municipal de Cultura, também está contribuindo com 5 mil cestas básicas para minorar os efeitos dramáticos da pandemia entre as famílias mais pobres de Formosa.
Foto de capa: Larisssa Barros, artista formosense. As imagens usadas nesta matéria foram cedidas por Nicholas Xavier, a quem agradecemos.
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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