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CORPUS POLITICUS

CORPUS POLITICUS

Corpus Politicus

Por O Poeta de Olhos Negros

Meu corpo
Meu templo sagrado de e ação
O corpo que grita
O corpo que sente
O corpo de razão e emoção
Corpo cravejado de facas
De balas
Apedrejado, às claras

É só um corpo
Não, é mais que isso
Um protesto são
Um brado retumbante que não é em vão
O florescer da mudança em pintura e criação

Todos os meus poros lutam comigo
Minha intuição me orienta, eu só sigo
Eu bato, apanho
Me levanto, me jogo, não me acanho
Minha pele reflete, espelha, expõe pra você saber
Estes malditos, doentes e sedentos por poder

Meu corpo é só meu
Meu corpo carrega marcas
Meu corpo carrega histórias
Derrotas e vitórias
O prometido e não cumprido
O falado e esquecido…

Corpo grita…
Corpo brada…
Ferido…
Esquecido…
Esculpido…

Fonte: Pensador

CORPO, UM ESPAÇO POLÍTICO

A primeira menção desse termo, Corpo Político, foi na Europa no século XV, usado em analogias feitas entre as no corpo humano e suas equivalentes no campo político, que eram consideradas pragas ou infecções que poderiam ser tratadas com remédios milagrosos.

Por Jorgete Lemos

Usarei essa metáfora para o campo do , no mundo corporativo, no qual as algumas “doenças” são preconceitos, discriminação, institucional e estrutural, como barreiras de entrada e de ascensão, dos corpos das populações minorizadas, que incrivelmente representam a maioria do povo brasileiro. São os grupos sociais historicamente excluídos do processo de garantia dos direitos básicos: Negros, Pessoas com Deficiência, ,50+ e os financeiramente precarizados, entre outros.

Abordarei o tema considerando 2 tempos: Passado e Presente

Passado

Eu sou um corpo político; meu corpo e minha cor sempre chegam primeiro aos ambientes em que transito. Aqui ressalto que é um corpo político que não exterioriza partidarismo, mas que materializa – valores.

A primeira experiência que me revelou que eu era uma preta foi aos cinco anos de idade, no “Jardim de Infância” de uma particular, gerida por uma igreja católica, no Rio de Janeiro, cidade onde nasci.

Todos os dias meu corpo de sofria a agressão de um colega de turma, menino bem mais velho, que tinha prazer em puxar as minhas tranças, com toda a sua força, ao que o restante da turma achava graça. Uma menina preta usando longas tranças causava curiosidade. Aquelas crianças não sabiam, mas estavam materializando o que lhes era ensinado por seus ancestrais, que denominamos de Racismo Recreativo.

“O humor racista opera como uma espécie de pedagogia racial. É preciso dizer aos negros, que não podem demandar o mesmo nível de respeitabilidade social dos brancos. Piadas reforçam a ideia de que os não negros são superiores. O humor racista é estratégico, reproduz estereótipos que servem para legitimar estruturas de poder”. Dr. Adilson José Moreira . “Racismo Recreativo”.

Mas, em casa, sempre tive a autoestima mantida elevada, valorizada e a cada nova agressão, eu era ensinada a não revidar; eles eram muitos e maiores do que eu fisicamente e naquela época, não tínhamos a quem denunciar.

A estratégia que eu adotava era a do desempenho, que deveria ser cada vez melhor para avançar. Não me retirar dos lugares por mais inóspitos que fossem. E funcionou.

Solidão

A solidão durante os anos de escola tinha uma resposta: eu era a única preta nas turmas. Solidão a qual eu respondia com – desempenho acima da média.

E no trabalho, a pergunta: Mas… Jorgete é a Senhora? Ouvi isso por duas vezes, em empresas diferentes, ao que complementavam: porque aqui não temos negros!

Estereótipos têm uma força indescritível. Nutrem os preconceitos e se materializam pela discriminação. Algumas pessoas não admitem ver as pessoas “diferentes” em espaços nos quais lhes fora ensinado que seriam apenas reservados a elas a propriedade e direito de usufruir.

O estranhamento à presença de pessoas de grupos minorizados no espaço onde habita o poder vai desde a inaceitação às vestimentas, penteados, maquiagem até as maneiras de se expressar verbal ou corporalmente. Tudo pode causar estranhamento.

Algumas pessoas precisam colocar um rótulo para poder conviver com o diferente. Precisam que haja um cargo, uma relação com uma empresa, pois não imaginam que haja luz no fim do túnel e que pessoas de grupos minorizados, superem a todas as imposições do mercado e vençam. Precisam branquear as pessoas, aos seus olhos, reforçando com expressões racistas (negro de traços finos etc.

Presente

Eu vejo o presente repetir o passado!

Neste momento estamos assistindo a perseguição à criatividade, naturalidade, felicidade de Vini Jr, jogador de , brasileiro jogando na Espanha, que teve um estádio de futebol repleto, em coro, chamando-o de macaco, o que foi repetido por Pedro Bravo, presidente da Associação de Empresário de Jogadores da Espanha, em um programa televisivo na Espanha. Ele depois se desculpou pelo uso de expressão com a palavra “macaco” durante programa.

Mas desculpa não apaga a dor, já dizia a minha sábia , Rosa Guilhermina Souza Anunciação, uma mulher preta, filha de escravizados.

Qual a aprendizagem que retiramos desses episódios?

Por que? Porque acredito que estejamos passando por um momento de inflexão e diante da mudança expressa pelo crescente poder financeiro e intelectual dos negros, pessoas reagem com ódio, fincando os pés em seus espaços herdados, entrincheirando-se para impedir um avanço que é inexorável. Não há retorno.

Sigamos em frente. Você vem?

Fonte: RH pra você

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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