CSAs: Comunidades que Sustentam a Agricultura e As primeiras experiências em Brasília

CSAS: COMUNIDADES QUE SUSTENTAM A AGRICULTURA

CSAs: Comunidades que Sustentam a Agricultura e As primeiras experiências em Brasília

Agricultores e agricultoras contando com apoio para seu trabalho, o que viabiliza sua permanência no campo, e pessoas na cidade comendo alimentos saudáveis, sabendo de onde estes vêm, como e por quem são produzidos.

Esse sistema de ajuda mútua, que rompe a lógica do alimento como mercadoria, é a proposta das CSAs, uma parceria entre agricultores/as e coagricultores/as que promove a mudança “da cultura do preço para a cultura do apreço”.

CSA vem da expressão em inglês Community Supported Agriculture, que significa comunidade que sustenta a agricultura. Nessa proposta, o/a agricultor/a deixa de vender seus produtos por meio de intermediários e conta com a participação dos consumidores e consumidoras na organização e financiamento de sua produção.

Quem escolhe fazer parte de uma CSA passa a colaborar para o desenvolvimento sustentável de sua região, estimulando o comércio justo, a economia solidária e, assim, torna-se coagricultor/a.

Em uma CSA, os agricultores e agricultoras têm, antecipadamente, a garantia de apoio financeiro para viabilizar suas atividades; ou seja, têm a certeza de que o que será colhido irá alimentar alguém e a segurança de que não haverá desperdício.

Quem apoia a atividade passa a conhecer a procedência do seu alimento, a compartilhar com amigos e amigas o ideal da alimentação saudável, a trocar receitas e a experimentar a convivência comunitária. A aprendizagem recíproca nos métodos de cultivo, no preparo dos alimentos e nas visões de mundo é uma marca forte das CSAs.

Nessa parceria, os agricultores e agricultoras dedicam-se às atividades de cuidar da terra, da água, da agrobiodiversidade e das sementes; de produzir os alimentos, fazer a colheita semanal e disponibilizá-los nos pontos de convivência.

Os coagricultores e as coagricultoras participam do planejamento da produção anual, definindo as variedades que desejam cultivar; discutem a planilha de custos de produção (incluindo insumos, remuneração pelo trabalho e outras necessidades do/a agricultor/a e sua família); organizam os pagamentos que financiam antecipadamente a produção; estabelecem os pontos de convivência onde os produtos são retirados semanalmente; trocam experiências e receitas; e, se quiserem, podem participar do processo produtivo.

Em Brasília, três CSAs estão em funcionamento: CSA Barbeta (com 60 coagricultores/as), a pioneira; CSA Toca da Coruja (com 22 coagricultores/as); e CSA Aldeia do Altiplano (com 12 coagricultores/as). O interesse despertado foi tão grande que, para todas elas, há listas de espera de coagricultores/as desejando ingressar, e já existe um coletivo – chamado CSA Brasília – voltado a fomentar a ideia.

As CSAs promovem encontros periódicos que permitem aos coagricultores e às coagricultoras compartilhar experiências, alimentar a relação de confiança entre si e se conectar com a Terra.

Cada CSA funciona de acordo com as características e desejos das pessoas que dela participam. A escolha das culturas alimentícias é combinada, levando em consideração gostos e hábitos alimentares, mas também as possibilidades do/a agricultor/a e as condicionantes ambientais da região.

Os alimentos são colhidos em sua época de produção mais favorável, de modo a compor uma cesta sortida com produtos da estação (frutos, flores, folhas e raízes). Os coagricultores e coagricultoras certamente encontram produtos que nunca comprariam no supermercado.

Participar de uma CSA é uma excelente oportunidade para diversificar a alimentação, conhecer outros sabores, fontes de alimento e formas de preparo. E, principalmente, de contribuir para um mundo mais sustentável e socialmente mais justo.

A CSA propõe uma relação solidária de apoio mútuo em que o/a agricultor/a sabe que pode contar com o apoio do grupo, viabilizando sua atividade produtiva, e o grupo de coagricultores/as sabe que pode contar com o/a agricultor/a na oferta de alimentos saudáveis com responsabilidade socioambiental.

Como participar de uma CSA

Se você também tem interesse, converse com seus amigos e amigas, junte um grupo e procure um/a agricultor/a, de preferência que já trabalhe na perspectiva agroecológica, ou tenha interesse de fazer a transição nessa direção. Você pode procurar as experiências já existentes, ou outras instituições, para buscar apoio à criação de uma nova CSA.

Uma vez definidos agricultor/a e coagricultores/as, todos juntos escolhem que alimentos querem e podem produzir; distribuem as funções (comunicação, tesouraria e outras) e definem o valor da contribuição mensal de cada coagricultor/a.

Para isso, o/a agricultor/a apresenta e pactua com os coagricultores e coagricultoras uma planilha com os custos da produção (irrigação, adubação, sementes, mudas, trabalho, ferramentas, manutenção) e indica o tamanho do grupo que é possível atender (quantas cestas).

A esse valor pode-se acrescentar o apoio a atividades coletivas do grupo e também à CSA Brasil, que promove cursos e ajuda a difundir a ideia (visite www.csabrasil.org). É importante que todos e todas se comprometam com o processo por pelo menos seis meses para estruturar a CSA.

Se o grupo achar necessário, pode haver um documento como um termo de adesão a ser assinado por todos/as, mas o fundamental é a determinação de envolvimento verdadeiro.

Fotos: Acervo CSA Brasília


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Fabiana Peneireiro
Agrônoma, Mestre em Ciências Florestais pela Esalq/USP. Membro do Núcleo Brasília do Mutirão Agroflorestal. Agricultora da Ecovila e CSA Aldeia do Altiplano

 

 

Adriana de Carvalho Barbosa Ramos, funcionária do Instituto Socioambiental.

 

 

Adriana Ramos
Jornalista. Vice-Secretária Executiva do Instituto Socioambiental (ISA). Coagricultora da CSA Aldeia do Altiplano.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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