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Desastres climáticos mais frequentes e mortíferos

Desastres climáticos mais frequentes e mortíferos

Gestores públicos e população precisam desenvolver cultura de prevenção, assim como acontece na costa leste do EUA, diz especialista.

Por Cristiane Prizibisczki/O Eco

Menos de três meses após o último evento climático extremo registrado no Rio Grande do Sul, o estado volta a ser castigado por um ciclone que, até a tarde desta quarta-feira (6), já havia deixado 32 mortos e centenas de desabrigados. As imagens da elevação das águas no Rio das Antas, que subiram mais de 20 metros – o equivalente a um prédio de sete andares – causaram espanto, mas o que chama atenção no fenômeno é a frequência, diz especialista.

Em meados de junho, a passagem de um ciclone extratropical já havia causado 16 mortes e destruído dezenas de cidades. Na ocasião, o governo do estado classificou o ocorrido como o desastre natural mais grave dos últimos 40 anos

Mas 2023 não está sendo exceção. Em maio de 2022, o Rio Grande do Sul vivenciou a tempestade Yakecan, que registrou ventos de quase 100 km/h e, apesar de não ter causado mortes, provocou destruição.

Em 2020, o estado sofreu com a passagem de um ciclone bomba, que matou uma pessoa. Antes disso, o Rio Grande do Sul havia sofrido com uma intensa tempestade em janeiro de 2019, que causou duas mortes, outra em janeiro de 2016, quando ventos atingiram aproximadamente 120 km/h, e com o furacão Catarina, de 2004, que deixou centenas de feridos e provocou prejuízos milionários.

Isto é, os eventos extremos estão se tornando não só mais frequentes, mas também mais mortais. Números do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, do Ministério da Integração, mostram que, entre 2017 e 2021, tais eventos causaram 14 mortes. Somente em 2023 já foram contabilizados ao menos 47 óbitos.

“A repetição [de eventos extremos] tem acontecido muito rapidamente. Não é um evento que você olha e fala: não acontecia há 50, 100 anos, não! Está acontecendo de maneira repetitiva, com uma frequência muito grande, o que é um prenúncio da tendência ao agravamento”, explicou a ((o))eco o professor do Instituto de Energia e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo, Pedro Cortez.

Segundo ele, o fenômeno do El Ninõ, que tende a provocar chuvas no sul e seca no norte do país, tem influência na ocorrência do ciclone que atinge o Rio Grande do Sul nos últimos dias, mas a intensidade verificada é fruto das mudanças no clima da terra.

“Essa chuva tem uma relação com o El Nino, mas a intensidade dela está relacionada às mudanças climáticas, aquilo que o IPCC [Painel científico da ONU para mudanças climáticas] alertava. Isto é, os fenômenos do El Niño e La Niña estão seguindo uma regularidade, mas os efeitos têm sido mais intensos do que a gente verificava há algumas décadas, até o início deste século, por exemplo”, diz.

Brasil na rota de desastres climáticos

Segundo Pedro Cortez, além de mudanças estruturais nas regiões mais propensas a eventos extremos, como melhorias no sistema de drenagem, por exemplo, um fator essencial que precisa mudar para minimizar os dados é a postura da população.

“A gente precisa não só de obras para tentar minimizar ou reduzir os efeitos dos eventos extremos, mas também desenvolver junto aos gestores públicos e à população uma cultura de prevenção. Consultar serviços de meteorologia para saber o que nos espera nas próximas semanas”, sugere.

Ainda que seja uma realidade nova para o país, os brasileiros precisam estar alertas e prontos para seguir medidas de evacuação, por exemplo, assim como acontece na costa leste americana, que sofre regularmente com a passagem de tornados.

“Nós não desenvolvemos essa cultura porque não estávamos sujeitos a eventos tão extremos, quanto eles ocorriam, eles eram eventos isolados em termos geográficos ou temporais, diferente do que acontece quase todo ano na costa leste dos EUA, onde existe um sistema de alerta para a população se preparar ou sair de determinadas áreas”, diz.

Segundo ele, considerando o quadro de agravamento dos eventos extremos que têm se verificado em diferentes partes do país, essa mudança de postura precisa ser urgente.

“A gente precisa desenvolver esse senso de prevenção muito rapidamente.  Infelizmente, o que aconteceu no RS é um exemplo de situações que vão se tornar mais frequentes no futuro”, finaliza.

Cristiane PrizibisczkiJornalista. Fonte: O Eco. Foto: Maurício Tonetto/Governo do RS.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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