DESFILE DA SALGUEIRO TERÁ COMO TEMA ENREDO O POVO YANOMAMI
“Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril/ Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome/ Quando o medo me partiu” canta um trecho da música da escola, que desfilará neste domingo (11), no Rio de Janeiro.
Por Maria Letícia L.
Inspirada na obra de Davi Kopenawa, a Escola de Samba ‘Salgueiro’ desfila neste domingo (11), no Rio de Janeiro, e trará como principal enredo o povo Yanomami. A letra do samba-enredo exalta a cultura ancestral desse povo indígena e também enfatiza o sofrimento que o povo Yanomami vem enfrentado.
Intitulado “Hutukara”, que traduzido para a língua yanomami significa “o céu original de onde se formou a terra”, a canção explora as mitologias, costumes e vida dos Yanomami, destacando ainda a crucial importância da preservação da Amazônia. Além disso, o samba-enredo foi concebido por Igor Ricardo em parceria com o carnavalesco da Salgueiro, Edson Pereira, e contou com a colaboração do líder indígena e escritor Davi Kopenawa, além de Marcos Wesley, do Instituto Socioambiental (ISA).
“A queda do céu” (Companhia das Letras, 2010), escrito por Davi Kopenawa, em colaboração com o antropólogo francês Bruce Albert, foi a principal base e uma das fontes fundamentais para a criação do enredo pelo Edson Pereira.
“Eles compraram o meu livro e leram tudo sobre a minha história, desde quando eu era menino até o primeiro contato com os invasores que chegaram na minha comunidade. Esse livro conta a história do meu povo e o Salgueiro achou muito bonito mesmo, eles acham que é um pensamento diferente”, contou a liderança Davi Kopenawa em entrevista coletada pela Amazônia Real.
No refrão do samba-enredo é entoado: “Ya temi xoa, aê, êa! Ya temi xoa, aê, êa!”; “eu ainda estou vivo” na língua Yanomami, o que destaca de forma grandiosa a força e sabedoria do povo Yanomami. A canção é de arrepiar pele, de fazer chorar e pensar. É com certeza uma exaltação honrosa e digna.
Os desfiles serão exibidos pela TV Globo e também estarão disponíveis ao vivo no Globoplay, confira a letra do samba de enredo e acompanhe a folia:
“É HUTUKARA! O chão de Omama
O breu e a chama, Deus da criação
Xamã no transe de yakoana
Evoca Xapiri, a missão…
HUTUKARA, ê! Sonho e insônia
Grita a Amazônia, antes que desabe
Caço de tacape, danço o ritual
Tenho o sangue que semeia a nação original
Eu aprendi português, a língua do opressor
Pra te provar que meu penar também é sua dor
Falar de amor enquanto a mata chora, (bis)
É luta sem Flecha, da boca pra fora!
Tirania na bateia, militando por quinhão,
E teu povo na plateia, vendo a própria extinção
“Yoasi” que se julga: “família de bem”, (bis)
Ouça agora a verdade que não lhe convém:
Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,
Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,
Quando o medo me partiu
Você quer me ouvir cantar em Yanomami pra postar no seu perfil
Entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!
Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom
Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom
Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,
Não queremos sua “ordem”, nem o seu “progresso”
Napê, nossa luta é sobreviver!
Napê, não vamos nos render!
YA TEMI XOA! aê, êa! (bis)
Meu Salgueiro é a flecha
Pelo povo da floresta
Pois a chance que nos resta
É um Brasil cocar!”