Dia do Saci: por que comemorar (ou não) a lenda brasileira no Dia das Bruxas
Deveria existir uma discussão sobre comemorarmos o Dia do Saci e não o Dia das Bruxas (Hallowen). Conheça mais sobre esse menino travesso e brasileiro
Você sabia que, além do Dia das Bruxas, comemora-se em 31 de outubro o Dia do Saci? A ideia surgiu em 2003, ano em que o deputado Aldo Rebelo propôs o projeto de lei federal n.º 2.762, que defendia a celebração de figuras do folclore brasileiro no lugar de mitos da cultura estrangeira.
No mesmo ano, foi criada a Sociedade dos Amigos do Saci (Sosaci), composta por um público diverso de pesquisadores do folclore nacional até pessoas que juram já ter encontrado o personagem saracuteando pelas matas.
Na época, o PL foi arquivado, mas desde então diversas cidades e estados (inclusive São Paulo, que aprovou a data em 2004) aderiram à comemoração do Saci Pererê. Em 2017, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) lançou uma nova proposta. “A data… parece-nos pertinente. A comemoração do Halloween no Brasil – como tantas outras celebrações da cultura norte-americana de forte apelo comercial – tem atraído um número cada vez maior de jovens e crianças. Criar, na mesma data, o Dia do Saci é, portanto, uma forma de oferecer à juventude brasileira a alternativa de festejar as manifestações de sua própria cultura”, defendeu o político em entrevista à Revista Época.
A ideia, porém, também tem seus críticos. “Quando você tentar impor uma data por decreto, você pode estar incorrendo em um erro, porque, no tocante à tradição popular, ela se fixa justamente pela espontaneidade, pela repetição, pela persistência e pelo anonimato”, explica Marco Haurélio, escritor, professor e pesquisador da literatura de cordel e do folclore brasileiro. Além disso, o estudioso também recorda que o Halloween não foi uma data criada pelos Estados Unidos, apesar de ser muito popular no país.
“Há um substrato celta, escocês e gaélico na comemoração de Dia das Bruxas”, afirma. “Até hoje, a data carrega um pouco da alma dessas culturas que, de certa forma, também tiveram influência sobre as culturas e mitologias do norte de Portugal e da Espanha, que são mais próximas a nós”, diz Marco.
A própria lenda do Saci também é uma amálgama de mitos e influências distintas, com dezenas de versões diferentes espalhadas por todo o Brasil. Em um mesmo folclore, é possível encontrar referências da Grécia Antiga até a cultura árabe. “É o mito brasileiro mais complexo que temos, por conta de todas essas convergências”, diz o pesquisador. Confira alguns paralelos levantados por Marco Haurélio sobre o personagem:
1. Já parou para pensar que tanto o Saci quanto o Gênio da Lâmpada são obrigados a servir alguém? A servidão está presente em ambos personagens, mas de formas distintas. Enquanto o gênio serve a quem o liberta, o Saci fica à mercê de quem pega o seu gorro vermelho.
2. No século 19, os Irmãos Grimm já haviam escrito escrito o conto “O espírito na garrafa”, que lembra alguns dos elementos presentes na lenda do Saci Pererê, que também pode ser engarrafado.
3. O personagem se tornou popular a partir de sua aparição nas aventuras de O sítio do picapau amarelo, de Monteiro Lobato. Assim, o Saci ficou conhecido como o menino negro, traquina, de uma perna só e fuma cachimbo. Em outras versões da mesma lenda, o personagem possui as mãos furadas ou, ainda, só metade do corpo pode ser vista. “A partir da obra de Lobato, as pessoas começaram a vê-lo de uma única forma, distanciando-se do Saci que habita o imaginário dos povos tradicionais”, explica Marco Haurélio.
Fonte: Revista Crescer
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