DINAMARCA DEVOLVE MANTO TUPINAMBÁ AO BRASIL

Historicamente, desde o século 16, muitos mantos semelhantes foram enviados à Europa por missionários jesuítas, outros foram roubados como espólio de guerra ou trocados num comércio desigual que favorecia os colonizadores.

DINAMARCA DEVOLVE AO BRASIL MANTO SAGRADO TUPINAMBÁ RARÍSSIMO
Foto: Museu Real de Arte e da Bélgica/Divulgação

O manto sagrado, recém retornado ao Brasil, mede 1,2 metro de altura por 60 cm de largura, possui um gorro e uma capa, que constituem um único traje. As penas de guará se encaixam sobre uma base de fibra natural, semelhante a uma rede de pesca.

O RETORNO QUE SIGNIFICA A VOLTA DOS ANCESTRAIS TUPINAMBÁ

Em 2023, a Artista e mestranda em antropologia na Federal do Rio de Janeiro, Célia Tupinambá, da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da , se pronunciou em entrevista à Mídia Ninja, onde esclarece que os mantos não são meros objetos, mas sim, são considerados ancestrais do Tupinambá, além de simbolizar sua resistência.

“Eu vejo essa movimentação como se fosse dos próprios ancestrais querendo voltar para o seu território”, afirmou Célia.

Célia também relatou que esse momento de retorno do manto sagrado se deu através de um processo demorado, além de envolver a cooperação de diversas pessoas envolvidas. “Se você pensar que esses objetos são sagrados e eles estavam em uma missão, agora chegou o momento deles fazerem o retorno para seus territórios”, conta a artista, ainda em entrevista à Mídia Ninja.

A devolução da peça sagrada representa o resgate de uma memória histórica e transcendental para o povo Tupinambá, ele contém energia e se conecta com seu povo.

 
DINAMARCA DEVOLVE AO BRASIL MANTO SAGRADO TUPINAMBÁ RARÍSSIMO
Gliceria Tupinambá em encontro com o manto de seus ancestrais no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, em 2022 — Foto: Renata Cursio Valente/Setor de Etnografia e Etnologia do Departamento de Antropologia do Museu Nacional (URFJ)

Atualmente, registra-se que existem cerca de onze mantos semelhantes a este, e todos estão localizados na Europa.

De acordo com a Revista Piauí, os tupinambás usavam essas vestimentas do gênero em ocasiões formais, como as assembleias, os enterros de pessoas queridas e os rituais antropofágicos, a celebração mais imponente promovida por eles no período colonial.

Além disso, o museu de Copenhague não sabe informar quem levou o manto para a Dinamarca nem por quê.

Manto Tupinamba 2 imagens

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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