Dois anos sem Marisa: A carta de Bia e a impotência ante a dor de Lula nas masmorras de Curitiba
Nunca consegui chamar a Marisa de dona Marisa, porque quando a conheci, nos tempos da fundação do PT, em São Bernardo do Campo, ela era só Marisa mesmo, mulher do Lula, dirigente sindical, só uma combativa militante partidária. Foi ela, bem no começo dessa história, quem costurou uma estrela branca num pano vermelho, criando, assim, a primeira bandeira do Partido dos Trabalhadores.
Depois que virou dona Marisa, mulher do Presidente da República, continuou companheira do PT e, sobretudo, companheira do sindicalista que conheceu no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo em 1973 e com quem se casou em 1974. É o próprio Lula quem conta: “Marisa foi companheira em todos os momentos, foi uma lutadora. Em 1975 assumi a presidência do sindicato em 24 de abril e a Marisa já tinha um filho de menos de dois meses, mas participou ativamente da minha vida no sindicato”.
No primeiro aniversário da morte de Marisa, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), já acossado pela perseguição que sofria, Lula a homenageou com um discurso de esperança após a missa celebrada no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo: “Vamos à luta. Recuperamos esse país politicamente, a autoestima do povo. Hoje não se governa, se destrói patrimônio, não se pensa em soberania, mas em vender patrimônio público. Os trabalhadores que tiveram por 12 anos de massa salarial, que acreditaram ser possível ter casa, universidade, escola técnica, esses trabalhadores que estão retornando aquilo antes de nós chegarmos. Agora, querem afundar a Previdência Social, tirar mais dos pobres para aumentar a desigualdade. Mas, mais dias menos dias, o povo pobre vai voltar. Espero que meu tempo de vida ainda seja longo, se eu chegar aos 90 anos, com a vontade e energia que eu estou, eu serei um contribuinte para a recuperação democrática desse País, para que pessoas mais simples e pobres tenham vez novamente“.
Há poucos dias, morreu Vavá, o irmão mais velho de Lula, vítima de um câncer. Em gestos coordenados e contínuos de crueldade, os poderosos juízes da Lava Jato lhe negaram o direito de velar e enterrar o corpo de Vavá. Fechando o ciclo da maldade, o ministro Toffoli, em mais uma atitude de escárnio, autorizou a ida de Lula a uma base militar próxima ao velório, para que o corpo fosse levado até ele, 15 minutos antes do enterro. Ante o deboche de Toffoli, só restou a Lula rezar e chorar na cela de Curitiba.
Essa semana, Bia, a neta de Lula, divulgou uma carta contando do sofrimento da família. Vale uma reflexão sobre a carta de Bia Lula:
Eu, enquanto mãe da pequena grande Analua, sei a dor que é vê-la querendo falar com o “tiso” (ela o chama assim) pelo telefone, e não pode. Ela mesma já sabe o que falar de consolo para os momentos em que ela busca por ele. Nesses instantes, ela me olha, pega o telefone, finge ligar pra ele e então fala: “Alô, tiso? é a Lua. Bem? (tudo bem), ahhh tá trabalhando?” e faz cara de chateada.
Automaticamente, ela olha pra mim e fala: “pouxaaaa, tiso tá trabalhando mamãe”, com bico no rosto, e então eu explico que o biso é um homem muito bom, generoso e não pode nunca deixar de trabalhar para ajudar as pessoas. Ela então bate palma e grita “êêê tiso, tiso, tiso”.
Não desejo para ninguém ver ou sentir o que sinto quando Analua fala sobre ele ou “conversa” com ele pelo telefone. É desumano, é doloroso. Minha filha não merece isso, eu não mereço isso, minha mãe, meus tios e primos também não merecem, mas sobretudo, meu avô, o gigante Luiz Inácio, não merece ser privado desse contato e dessa troca com as pessoas que ele mais ama, com a família que ele lutou para construir.
Se eu pudesse fazer um desejo meu se realizar, certamente seria o de vê-lo livre para que juntos consigamos viver em paz, ter nossos momentos, devolver a ele tudo que ele sempre mais quis conquistar e preservou enquanto deixaram, sua liberdade. Para que ele possa conviver com quem o cerca de amor, carinho, cuidado.
Não podemos mais permitir que deixem ele lá, não podemos mais permitir que privem ele do contato com a família e, principalmente, com os netos que, sem entender nada, choram de saudade, perguntam, querem ligar, mas não podem.
Por favor, libertem ele, façam justiça.”
Impotente, sofro com a imensa, com a profunda dor de Lula ante o calvário que lhe é imposto, especialmente neste 3 de fevereiro, nos dois anos da partida de Marisa.
Só posso repetir dona Lindu: “Teima, Lula, Teima!”
Salve! Taí a Revista Xapuri, edição 82, em homenagem ao Jaime Sautchuk, prontinha pra você! Gostando, por favor curta, comente, compartilhe. Boa leitura !
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