Dom Tomás Balduino: O apóstolo dos povos do Cerrado

O apóstolo dos do Cerrado – Calou-se a voz de Dom Tomás. “Permanecerá sua palavra”, diz o . “Para tudo há uma ocasião certa… tempo de nascer e tempo de morrer…”, diz a Palavra. Naqueles dias, o bispo dos índios e da reforma agrária, o homem da natureza do Sertão e do Cerrado, das comunidades e dos quilombos, de Formosa e de Posse, do de Deus, viveu sua agonia.

Por Osni Calixto

Tarde do dia dois de maio do ano de 2014. A anuncia a morte. Calou-se a voz de Tomás Balduíno. O poeta anuncia reticente: permanecerá a palavra. “Há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu” (Eclesiastes, 3:1-8).  A Comissão Pastoral da Terra informa a triste notícia do encantamento do apóstolo que “lutou por toda sua vida pela defesa dos direitos dos pobres da terra, dos indígenas, das demais comunidades tradicionais, e por justiça social”.

Nascido Paulo, nome do Apóstolo. Dom Tomás foi enviado ao mundo, na passagem de ano de 31 de dezembro de 1922. Filho de Posse, filho de Goiás, filho de José Balduíno de Souza Décio e Felicidade de Souza Ortiz, o último menino homem de uma família de onze irmãos e irmãs. Da infância com formação cristã na cidade de Formosa, tornou-se o defensor dos direitos humanos no Sertão de Goiás. Vocacionado para o Evangelho de Deus, foi ordenado Frei Tomás, da Ordem Dominicana.

Peregrino, ouviu a voz do coração. Da Escola Apostólica, o Diocesano, filosofia e teologia, era o caminho – de Minas, São Paulo, Saint Maximim, na França –, o mundo conheceu Tomás. De volta às origens, faz o mesmo caminho, Juiz de Fora – a Escola Apostólica, aí o Mestre. Lecionou filosofia em Uberaba e, de lá, volta ao Sertão, às chapadas, veredas e gerais. Em 1957, é nomeado superior missionário dominicano da Prelazia de Conceição do Araguaia. Faz mestrado de antropologia e linguística, na UnB de Brasília.

O Apóstolo fala a língua dos índios Xicrin, Bacajá, Kayapó, Kraô, Avá. Nasceu para servir. Voava aos céus de Deus, para atender aos do baixo-Araguaia, num bimotor. O avião vermelho, o bispo dos homens, na militância política, salva vidas na luta contra a .

Tomás é palavra, Tomás é Sertão. O Bispo dos índios e da reforma agrária acredita na força do homem simples, do sertanejo, das mãos calejadas, que plantam o arroz, o feijão e o milho. Homem da Fé, ele se torna o caminho, a palavra e a vida plena no sertão do Goiás para os povos do Cerrado.

[wm_column width=”1/2″ last=”0″]Reconhecido pelo mundo, na luta pelos direitos humanos, das mulheres, dos negros, dos pobres e das camadas mais oprimidas e profanadas da sociedade, ganha prêmios e reconhecimento, até no Vaticano. Ungido Bispo Diocesano da Cidade de Goiás, seu Ministério coincide com os tempos de chumbo da Ditadura Militar – de 1964 a 1985. Tempos de luta, política e fé.

Naquele tempo, profetizava: “É preciso organizar o povo. Criar os mecanismos capazes da transformação, das mudanças que a sociedade precisa”. Muda-se para Goiânia e se engaja firmemente na evangelização da Teologia da Libertação, na Campanha Nacional pela Reforma Agrária, o Movimento do Custo de Vida, como fazer? Qual o sentido da caminhada?

A mão de Dom Tomás toca a causa. A construção dos instrumentos, do mecanismo, a criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975, com as Comunidades Eclesiais de Base, são o fermento da luta.

Jurado de morte, viveu a vida plena. Homem simples, viveu a glória. Os títulos, o reconhecimento, nacional e internacional. Em 2006, para ele o mais importante: Doutor Honoris Causa, da Universidade Católica de Goiás, pelo comprometimento com a luta do povo pobre de Deus.

No mesmo ano, em Curitiba: o prêmio Humanista do Ano/2006; no campo internacional ganha o prêmio Reflections of Hope, em 2005, como exemplo de esperança na solução das causas que levam à miséria de tantas pessoas em todo o mundo. Firme, na fé e na atitude, em 2009, vai a Roma participar da homenagem a Dom Oscar Romero, por ocasião dos 29 anos de seu assassinato.

Calou-se a voz de Dom Tomás. “Permanecerá sua palavra”, diz o poeta. “Para tudo há uma ocasião certa… tempo de nascer e tempo de morrer…”, diz a Palavra. Naqueles dias, o bispo dos índios e da reforma agrária, o homem da natureza do Sertão e do Cerrado, das comunidades e dos quilombos, de Formosa e de Posse, do mundo de Deus, viveu sua agonia.

No dia 2 de maio de 2014, aos 91 anos, Paulo morreu. Tomás, o Apóstolo dos Povos do Cerrado, subiu aos céus. Deixou como lição: Para tudo há um tempo, tempo de lutar e tempo de viver em paz, segundo o Evangelho de Dom Tomás.[/wm_column]

dom tomás diariodaliberdade.org
foto www.diariodaliberdade.org.br

Calou-se a voz dos oprimidos

Calou-se a voz de Tomás Balduino, (…)
Uma voz que nunca quis ser sozinha
sabia, desde os anos de chumbo:
uma voz solitária não suspende a manhã.
Quis ser uma voz entre as vozes
ergueu sua voz dentro do vasto coro dos oprimidos:
os índios, os posseiros, os lavradores,
os retirantes da seca e da cerca
e os que se levantam contra elas,
as mulheres, os negros, os migrantes, os peregrinos
para forçar claridades, para ensinar o amanhecer.

Tomás é palavra.
A palavra que banha como bálsamo.
A palavra que fustiga.
Incendeia.
A palavra que perdoa
mas aponta – sempre – o caminho da Justiça.
E o que somos na vida?
Somos os ossos das palavras
que povoam o caminho de pedras ou flores
que sangram os pés de nossos filhos.

Tomás é sertão.
O sertão e suas armadilhas.
O sertão e suas infinitas contradições.
Tomás é sertão
onde se dobram os ventos de Goiás e Minas,
onde nascem as águas
nessa infinita geografia
que alimenta nossas esperanças.

Calou-se a voz de Tomás Balduino.
Permanecerá sua palavra.
Tomás é sertão:
gesto de fé nessa gente que não se dobra.

Poema de Tierra – Poeta Libertário. Autor, dentre vários outros livros, de Dies Irae – oito testemunhos indignados e uma ressureição. Brasília. 1999.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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