AS DUAS ALEGRIAS

As duas alegrias

Vivemos sempre entre duas alegrias. Há a alegria que vem de dentro de nós mesmos e há a que vem de fora.  Quero que as duas sejam suas. A alegria que nos vem do íntimo não pode acabar nunca

Por João de Deus de Souza

Há a alegria que vem de dentro de nós mesmos e há a que vem de fora.
Quero que as duas sejam suas.
Que encham as horas deste seu dia,
E todos os dias de sua ;
Pois quando as duas se encontram e se unem,
Há um tal canto de alegria que, nem o canto da andorinha,
Nem o canto do rouxinol, se lhe pode comparar.
Mas, se uma delas, somente, devesse lhe pertencer;
Se por você eu devesse escolher,
Escolheria a alegria que vem nos vem do íntimo.
Porque a alegria que vem de fora
È como o sol que se levanta de manhã e que, à tarde se põe.
Como o que aparece e desaparece;
Como o Calor do verão que vem e se retira;
Como o que sopra e passa;
Como o que arde e depois se extingue…
Muito efêmera; muito fugitiva.
Tenho necessidade de alguma coisa que dure;
De alguma coisa que não tenha fim,
Que não possa acabar de repente.
E a alegria que nos vem do íntimo não pode acabar nunca.
Ela é como o rio tranquilo,
Sempre o mesmo; sempre presente.
Ela é como a rocha;
Como o céu e a que não podem nem mudar nem passar.
Gosto das alegrias que nos vem do interior, lá do íntimo.
Nunca as rejeito.
Todas surgiram em minha vida na hora mais conveniente.
Foram uma sagrada força e um apaziguamento.
Foram luminosas e doces;

Esplêndidas e raras…
Eu as bendigo porque são divinas.
Eu as encontro nas horas do silêncio;
Nas horas de abandono nas mãos de Deus.
Seu canto chega a mim através da minha tristeza
E de meu cansaço.
Ela jamais me deixou.
É Deus; é o canto de Deus em mim.
Esta força tranquila que dirige os mundos
E conduz os homens;
E que não tem fim;
Que jamais pode acabar.


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João de Deus de Souza – Filósofo e Psicólogo

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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