É bom estar aqui, vivendo!

É bom estar aqui, vivendo!

Viver é bom. Quem argumenta positivamente sobre a dádiva de viver é o padre e filósofo Joacir D’Abadia, que numa reflexão intimista fala de viver, sobretudo com a verdade, com , reponsabilidade, consciência e com ética

Neste momento estou vivendo! Oxalá, todos pudessem perceber que vivem. Aliás, viver é também nossa vocação. Mas, sabe de uma coisa? Minha ocupação prioritária agora é com a Prática, estudando, assim a ética e a moral como princípios da ação do homem, tendo em vista um indivíduo livre, capaz de assumir as exigências de suas escolhas e viver a liberdade de sua consciência. Aqui quero que sejam eternizados estes pontos: a procura da verdade, a disposição pela disputa, a disposição pelo desejo de ter razão e a disposição pela mania de julgar.

Temos um caminho que trilhamos que é a Procura da verdade, o qual nós perseguimos buscando a reflexão de grandes pensadores, que vão desde Aristóteles, quando cunha o termo “Enteléquia” (do grego _entelechia), energia que age, passando por Leibniz, que afirma o pensamento Aristotélico dizendo que “o fato de possuir perfeição”, as enteléquias são “todas as substâncias simples ou mônadas criadas”. Temos também Nietzsche com seu pessimismo com a e, sobretudo, Espinosa com sua Interpretação da filosofia Prática, tentando responder e propor um pensamento dos valores frente à sua reflexão sobre a diferença da Ética em relação a uma Moral, falando da “desvalorização de todos os valores e, sobretudo, do bem e do mal” e de “todas as ‘paixões tristes’”.

Penso que carrego em minha vida muitos destes aforismos! Gosto muito de São Tiago quando nos ensina: “mostre sua fé sem as obras que eu te mostrarei minha fé pelas obras”. Tantas coisas podemos fazer em benefício do nosso próximo, mas deixamos de fazer por pensar que não seja a hora oportuna. Nossas obras são importantes porque nelas colocamos nossa essência, nossa no que fazemos. Vivemos enquanto vivemos!

Tenho dentro de mim uma viva disposição pela disputa. É uma competição entre meus sentimentos bons que almejam os mais sublimes diálogos, aqueles que criam os discursos prontos capazes de persuasão, seja com quem for. Contudo, por outro lado, existe a prática das vicissitudes destoantes do meu querer. Minha disputa é comigo mesmo quando eu cultivo a Disposição pelo desejo de ter razão.

Veja bem! Mesmo que eu deseje o bem e tenha consciência de seu valor em minha vida, ora por outra sobressai uns quereres em desafeto com o que realmente posso julgar ainda tendo razão. Destarte, o modo como me proponho fazer o meu viver ter sentido me faz enxergar que nem sempre tenho razão em obedecer os desatinos esforços para o mal, por isso caio num frio julgamento, a Disposição pela mania de julgar. Julgo pensando ser verdade o que busco, porém nem a disposição pela disputa, a disposição pelo desejo de ter razão e nem a disposição pela mania de julgar tem sentido se não consigo ser eu mesmo. Basta, todavia, que eu goste de estar aqui, na vida, vivendo. Assim, posso afirmar: “é bom estar aqui”.

Padre Joacir d’Abadia, Filósofo autor de 12 , Especialista em Docência do Ensino Superior, é da ALANEG e da ALBGO

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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