“É uma decisão econômica ruim”, opina ganhador do Nobel sobre a exploração da Foz do Amazonas
O economista Joseph Stiglitz participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, e afirmou que a proposta é prejudicial, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista ambiental.
Por Júlia Mendes/ O Eco
Com o mundo caminhando para abandonar a exploração de petróleo em médio prazo, a exploração que o Brasil pretende iniciar na Foz do Amazonas, na costa do Amapá, é uma decisão econômica ruim, opina o economista Joseph Stiglitz, ganhador do Nobel de Economia em 2001 e entrevistado desta segunda-feira (16) no programa Roda Vida, da TV Cultura.
Segundo o economista, a decisão econômica vai no sentido contrário às trajetórias de outras nações que já tem como meta a emissão zero de carbono já em 2050, bem como o avanço das mudanças climáticas. “Vocês não terão a capacidade de colher totalmente os frutos disso”, diz.
“Primeiro, tenho quase certeza que essa é uma decisão econômica ruim. Digo isso por um motivo simples: desenvolver um polo petrolífero leva muito tempo, e aí, em geral, até ele se pagar, demora 20, 30, 40 anos. Agora, lembrem-se, estamos em 2023, e a Europa e os EUA dizem que serão carbono zero até 2030, aliás, até 2050, e o resto do mundo até 2060. Eu acho que será antes disso, porque as mudanças climáticas que estamos vendo são tão devastadoras que haverá um forte movimento político para que eles acelerem. Isso [2050] é daqui a 27 anos. Vocês não terão a capacidade de colher totalmente os frutos disso, ou podemos dizer que isso se tornará o que chamamos de ativos abandonados. Você faz um grande investimento, mas não poderá obter um retorno. Portanto, acho essa decisão econômica uma tolice. Quando a vejo pelo prisma da minha preocupação com o meio ambiente… Lembre-se, destruir a Amazônia faz mal não só ao mundo, mas faz mal ao Brasil porque afeta as precipitações em outras regiões. E danificar uma parte da Amazônia danifica outras partes da Amazônia. Sabemos disso. Conhecemos essas interações complexas. Fazer algo assim, ainda que só numa parte da Amazônia, é ruim para o Brasil”, disse.