Ecoam tambores na floresta!

Ecoam tambores na !

Warrãna-rarae, Warrãna-rarae
Mari-nawa-kenadêe

Por Zezé Weiss

Emocionante o desfile da de Samba Porto da Pedra, na madrugada deste dia 19 de fevereiro de 2023. Tocante a homenagem às lideranças que tombaram em e dos da floresta. 

No carro alegórico que fechou a passagem da escola pela Avenida, a presença de Angela Mendes, filha de , simbolizando a resistência das gerações presentes e futuras. 

, vidas, sonhos, magias  em um samba ao que cumpre, também, o papel da denúncia e do chamado a proteção da maior floresta tropical do planeta. 

Carnaval Porto da Pedra 2 verde

Samba-Enredo Porto da Pedra – /2023 

Warrãna-rarae, Warrãna-rarae
Mari-nawa-kenadêe
Ecoam tambores na floresta
Porto da Pedra, é nossa hora de vencer

Sou um servo do delírio
O senhor do imaginário
Fui o bálsamo do
Luz de toda inspiração
Sou o remo da jangada
Rumo à terra inexplorada
Onde Deus fez a morada
Pele imaculada que restou da criação

Eita lar dos homens bons
Deita em leito Solimões

Escute o grito que ecoa na floresta
Misture o visgo verdejante e o metal
Eu sou a lágrima de prata, o brilho da Lua na mata
Jurupari e bicho folharal

Escute o grito que ecoa na floresta
Misture o visgo verdejante e o metal
Eu sou a lágrima de prata, o brilho da Lua na mata
Onde o curumim vira animal

E Amazona, é mulher, bravura
É caruana, e o poder da cura
O arco da Piracema
Flecha do do poema
Lança pra eternizar cultura
Luzes, bandeirinhas e paixões
Boto sedutor de igarapés
Zarpa jangadeiro de emoções
Os xamãs, caboclos e pajés
O dom de proteger seringueiras
Matitas Pereiras, Chicos e irmãs desse lugar
A missão mais deslumbrante por esse rio-mar.

Composição: Arnaldo Bigode / Celinho Baiano / Claudinha Sing / Fabio LS / Karina Porto / Marcão / Dentinho / Rejane França / Robinho Porto / Vadinho / Zé Alex. Fotos: Zezé Weiss/Reprodução tela da Band. 
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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