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Economia verde: Problemas e riscos

A não equaciona duas grandes questões e nos coloca diante de um altíssimo risco. Ela não resolve a questão da desigualdade. A igualdade não é compatível com a manutenção do nível de consumo dos mais ricos. Um americano consome em média seis vezes mais que um indiano. A igualdade exige a imposição de limites, negados pelo atual sistema, que busca a acumulação e consumo ilimitados.

A pegada ecológica da Terra não aguenta mais. Se quiséssemos universalizar o nível de consumo dos países ricos, precisaríamos de três Terras iguais a esta. Encostamos já nos limites da Terra. Forçá-los faz com que ela reaja sob a forma de tufões, secas, enchentes, tsunamis e eventos extremos. Impõe-se uma redução do consumo e caminhar para uma sociedade condividida.
A “economia verde” pode representar também a perversa voracidade humana, especialmente das grandes corporações, de fazer negócios com o que há de mais sagrado na natureza, que são os bens comuns da Terra e da humanidade, cuja propriedade deve ser coletiva.

Entre eles se contam: a água, os aquíferos, os rios e os oceanos, a atmosfera, as sementes, os solos, as terras comunais, os parques naturais, as paisagens, as línguas, a ciência, a informação genética, os meios de comunicação, a internet, a saúde e a , entre outros. Como estão intimamente ligados à vida, não podem ser transformados em mercadoria pura e simples, e entrarem no circuito de compra e venda. A vida é sagrada e intocável.

Pôr preço nos bens e serviços que a natureza nos dá gratuitamente, privatizando-os com intenção de lucro, é a suprema insensatez de uma sociedade de mercado. Ela já havia operado a perversidade de passar de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado.

Assim, por exemplo, procura-se ganhar não somente com a madeira da , mas também vendendo sua capacidade de criar e umidade. Não se quer ganhar negociando apenas o mel da abelha, mas se quer lucrar com sua capacidade de polinização. Como tudo é feito “commodities” para o mercado, assim também os bens e serviços naturais são transformados em commodities. Esse tipo de economia verde é inaceitável.

Se essa tendência da “economia verde” triunfar, significará o último grande assalto dos humanos vorazes e biocidas sobre a natureza e a Terra. O caminho ao abismo seria irreversível. Então nem teremos filhos e netos para chorar o nosso trágico destino, porque eles também não existirão.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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