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Educação em tempos de pandemia

em tempos de pandemia

Por João Canto via Julio Neves no Facebook

Texto maravilhoso, do amigo João Canto ?

O mundo, que vivia uma corrida desenfreada imposta pela ditadura dos mercados, foi obrigado a diminuir o ritmo para não sucumbir a um inimigo invisível. Os defensores do Estado mínimo, diante da omissão da mão invisível do mercado, viram-se forçados a recorrer à ajuda da mão benevolente do Estado.

Nesse cenário de incertezas, ficou evidente a importância da ciência e dos pesquisadores das universidades públicas, que vinham sofrendo cortes de verbas, de bolsas para pesquisa e com ataques promovidos por pessoas que negam a ciência ao defenderem teorias obscurantistas. A educação virou pauta de muitos debates.

Diante da necessidade do distanciamento social, alternativas às aulas presenciais foram apresentadas de maneira aligeirada e sem uma discussão ampla com os segmentos envolvidos (professores, pais, alunos). Governos aproveitam a oportunidade para experimentos com utilização de plataformas de EaD que poderão, em futuro próximo, substituir professores e aumentar o lucro de empresas, massificando a formação de crianças e adolescentes.

As escolas particulares, que já eram assombradas pelo fantasma da inadimplência, também recorrem ao uso de plataformas digitais, umas por pressão de alguns pais, outras como um diferencial mercadológico. Expressões como “home office”, “homeschooling”, dentre outras, passaram a fazer parte do cotidiano de muitos profissionais da educação.

Professores passaram a enfrentar um novo desafio: alimentar plataformas com vídeo aulas, podcasts, exercícios, textos, fóruns… sem que houvesse um treinamento prévio e sem que dispusessem da infraestrutura necessária (equipamentos, banda larga). A pressão está sendo grande! Já há relatos de profissionais que chegam a gastar mais preparando aulas virtuais do que com presenciais.

Diante de todo esse cenário, fica a certeza de que o é imprescindível e que as novas tecnologias são apenas ferramentas que poderão subsidiar o docente, mas jamais substituí-lo. A tecnologia existe para facilitar as nossas vidas e não para naturalizar a exploração de trabalhadores, submetendo-os a um sistema que coisifica e massacra seres humanos.

A complexidade do momento atual traz a certeza de que a primeira preocupação deveria ser garantir as condições básicas para a sobrevivência das pessoas. Conteúdos podem ser recuperados; a vida, entretanto, é única, irrepetível e insubstituível.

João Francisco do Canto –  Formado em Ciências Sociais
Professor das redes pública e privada

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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