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EDUCAÇÃO NO E DO CAMPO: BANDEIRA DE LUTA COMUM DAS JUVENTUDES DO CERRADO

EDUCAÇÃO DO CAMPO: LUTA COMUM DAS JUVENTUDES DO CERRADO

Educação No e do Campo: Bandeira de Luta Comum das Juventudes do Cerrado 

A educação só faz sentido se for emancipatória”, defende Railson Borges, do estado do Piauí

Por Rede Cerrado 

E para que isso aconteça, as escolas também precisam ser entendidas e construídas como sendo no e do campo. No campo, para que crianças e jovens não tenham de percorrer, todos os dias, quilômetros e mais quilômetros para chegarem até as salas de aula. Do campo, para que essas juventudes vejam suas realidades e especificidades retratadas e respeitadas dentro da política pedagógica dessa instituição que é direito constitucional de todas e todos.

Reunidos em Hidrolândia (GO), em dezembro de 2018, para o I Encontro Nacional das Juventudes do Cerrado, promovido pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, mais de 100 jovens conclamaram em carta final divulgada após o evento:

Nós queremos permanecer em nossa terra e conservar o nosso Cerrado. Nossa luta por permanência é também uma batalha por uma Educação do e no Campo. A Educação do Campo é uma política pública para a organização do conhecimento dos povos do campo. É uma polaridade cultural dirigida pelos povos do campo dentro de seu lugar de origem, é um processo de ressignificação da teoria e da prática na superação da escola tradicional”.

Denunciaram, ainda, o fechamento das escolas do campo no país, que vêm, sistematicamente, aumentando nos últimos anos. Somente no estado do Piauí, foram 317. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 40 mil unidades escolares encerraram suas atividades nos últimos 15 anos. E isso fez com que milhares de jovens deixassem suas comunidades em busca de oportunidades nas cidades.

Em carta, continuaram: “Permanecer no Cerrado é também incentivar nossos modos de produção, geração de renda e conservação do nosso Bioma. Por isso, também gritamos pela valorização de uma assessoria técnica voltada para a produção da juventude, investimento em Escolas Família Agrícola (EFA’s), e políticas públicas para nosso acesso ao mercado justo e de economia solidária”.

Manter-se em seus lugares de origem para essas e esses jovens é fundamental. Contudo, “as escolas das cidades não dialogam com os modos de vida e costumes do campo. E isso pode tornar a vida do jovem do campo nas cidades muito difícil”, acrescenta Railson. Ele, assim como os demais jovens do encontro, tem consciência do seu papel: dar continuidade às tradições e aos modos de vida dos povos e das comunidades tradicionais e camponesas essenciais para a manutenção dos ecossistemas e conservação do meio ambiente. A Articulação das Juventudes do Cerrado está viva, em pé e em luta!

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p style=”text-align: justify;” align=”justify”>A Rede Cerrado conta com o apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês para Critical Ecosystem Partnership Fund) e do DGM Brasil – Mecanismo de Apoio Dedicado a Povos Indígenas, Comunidades Quilombolas e Comunidades Tradicionais do Cerrado Brasileiro. Para saber mais, acesse: www.redecerrado.org.br.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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