Ekambupi

Ekambupi

Por José Gil Barbosa Terceiro

Na época em que apenas índios habitavam a região de Guadalupe, já se contavam histórias sobre uma mitológica serpente de água doce, de proporções gigantescas, que habita as profundezas da Lagoa da Salina, situada nas terras daquele município.

Apesar de seu tamanho assustador, é mais pacífica que outros monstros aquáticos, como o Minhocão e o Sucuruju, e apenas se alimenta de peixes e plantas aquáticas. No entanto, é possível que possa oferecer perigo caso se sinta ameaçado, ou se poluírem a Lagoa que habita, da qual, dizem, a criatura é guardiã. Por vezes, pode assumir a forma de um surubim maior e mais comprido do que o normal.

Após a construção da Barragem da Boa Esperança, na Usina Hidrelétrica instalada em Guadalupe, concentrou-se naquele município um grande volume de água, além de que as águas da barragem são rodeadas por córregos e vazantes. Fala-se que o monstro é visto também nessas águas, migrando, de umas para outras, não se sabe se por teletransporte místico ou se percorrendo águas subterrâneas.

José Gil Barbosa Terceiro – Folclorista. Fontes consultadas pelo autor listadas no site https://causosassustadoresdopiaui.wordpress.com/ekambupi/

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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