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Ele, Mansinho…

Ele, Mansinho…

Escrevo estas linhas mergulhada em lágrimas de uma saudade profunda desse camarada maravilhoso que conheci nos anos 80, e com quem fiz muitas parcerias desde que ele era oficial de comunicação do Unicef e eu professora de Comunicação da UnB.

Por Tânia Montoro

A parceria cinematográfica foi, contudo, a mais sensacional. Começamos com uma mostra itinerante chamada Vídeo Terra, sobre experiências sustentáveis de no mundo rural. Ali se delineou o embrião do Festival de e Vídeo Ambiental (FICA), de cuja fundação ele participou na cidade de .

No começo de 1998, quando tudo parecia um sonho, organizamos um festival internacional em menos de três meses. O próprio Jaime registrou a experiência numa revista da Federal de Goiás, em junho de 2006: “Um grande evento para o tombamento da cidade de Goiás, para o Estado de Goiás, para o e para o mundo todo. Foi uma das etapas mais bonitas da minha vida. Uma aventura maravilhosa”.

Essa aventura culminou com a visita de Jaime a Barcelona e Seia, na Serra da Estrela, em Portugal, para fechar o convênio do CineEco (Portugal) com o FICA.

Em 2000 fomos convidados do governo de Cabo Verde para os II Encontros Internacionais de Cinema de Cabo Verde, que homenagearam a atriz brasileira Zezé Motta.

Dois anos depois, eu, o Jaime e o  Armando Bulcão embarcamos em outra aventura cinematográfica, agora no Cine Dois Candangos da UnB, com a I Mostra de Cinema Negro, que homenageou o ator e diretor Zózimo Bulbul.

Perder um amigo de toda uma vida é como ficar órfã de momentos e histórias que sonhamos e construímos juntos. Que a luz do cinema conduza meu amigo-irmão para outras aventuras que em breve, ele, mansinho, me confidenciará.

 Tânia Montoro


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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