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Ele mata!

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Foz do Iguaçu, noite de 10 de julho. Marcelo Arruda, liderança petista local, comemorava seu aniversário de 50 anos, em festa realizada em espaço privado…

Por Rodrigo Perez Oliveira/via Jornalistas Livres

O lugar foi invadido pelo policial penal federal e militante bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, de 38 anos, que assassinou o aniversariante a tiros de arma de .

A factualidade do episódio se encerra aqui. Começam agora as disputas políticas pelo sentido do acontecimento. Falar, escrever, produzir discursos é o gesto político mais fundamental que existe.

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A primeira coisa que chama atenção é como as forças policiais estão corrompidas pelo bolsonarismo. O agressor é agente penitenciário federal. A delegada Iane Cardoso, a primeira responsável pelo caso, tinha histórico de declarações antipetistas nas redes sociais. Nas primeiras horas depois do fato, ela falou à imprensa, de modo apressado e sem respaldo de qualquer investigação, afirmando que Marcelo havia sido o responsável pelo início da briga. Dada a repercussão, foi afastada do caso, que agora está sob comando da delegada Camila Cecconello.

A Polícia Civil mentiu dizendo que o agressor estava morto. Difícil acreditar que tenha sido apenas erro de informação. Mentiu porque queria controlar a primeira narrativa. A morte de Jorge Guaranho serviria pra produzir a tese da equivalência, como se ambos, assassino e vítima, fossem igualmente culpados. Não é de hoje que as forças policiais são problema grave para a ordem democrática brasileira. Carregam entulhos autoritários que herdamos da ditadura militar. O bolsonarismo conseguiu piorar, e muito, a situação. Não será nada fácil resolver esse problema.

Outra narrativa que chama muito a atenção é a “tese dos dois demônios”, levantada por aqueles que pretendem emplacar a “terceira via” nas presidências de outubro. Os principais representantes são Ciro Gomes e Simone Tebet. O argumento básico é que o Brasil vive em ambiente de “ política” e que a “polarização” estimulada por Lula e Bolsonaro é a causa da crescente onda de política no país. A tese inviabiliza qualquer possibilidade de responsabilização política de Jair Bolsonaro. Na prática, a “terceira via” está se comportando como linha auxiliar do bolsonarismo, colaborando com o terror bolsonarista. Está tudo registrado nos anais da . Na hora certa, os colaborares serão julgados politicamente. Talvez já estejam sendo, a considerar seu desempenho pífio nas pesquisas.

No primeiro momento, Jair Bolsonaro “dispensou” o apoio daqueles que agem com violência contra os opositores. No dia seguinte, Eduardo Bolsonaro, comemorando seu 38° aniversário, postou em uma rede social foto de um bolo alegorizado com um revólver. Na segunda-feira, dia 11 de julho, Jair Bolsonaro evocou a filiação de Adélio ao PSOL, investindo na narrativa de que a violência política “parte dos dois lados”. O objetivo do bolsonarismo é criar um clima de terror e fazer com que as pessoas tenham medo de irem votar no dia 2 de outubro. A tese da guerra politica tem essa função. A alta abstenção seria elemento importante na tentativa de deslegitimar o processo eleitoral.

O vice-presidente Hamilton Mourão também se manifestou. Não fala pelo governo. Já há algum , Mourão está completamente escanteado do governo. A forma como Jair Bolsonaro humilha os generais do é tema fundamental na cronologia da crise democrática e certamente será bem analisado pelos estudiosos especializados nas relações entre os militares e a política. Mourão tentou despolitizar o evento, dizendo que se tratou de “briga de bêbados”. Poucas vezes vimos um vice-presidente tão inexpressivo e pequeno.

Diante de tantas narrativas e apropriações, é importante que o campo democrático também invista energia política na significação da morte de Marcelo Arruda. De forma alguma, é algo desrespeitoso. Tenho certeza de que esse seria o desejo do próprio Marcelo.

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Alguns aspectos me parecem fundamentais:

1°) O Brasil não vive uma “guerra política”. Guerra pressupõe dois lados em disputa, lançando-se em conflito de morte um contra o outro. Apenas o lado bolsonarista está armado e disposto a matar. Os petistas estão tentando vencer as eleições dentro das regras do jogo democrático/eleitoral.

2°) A culpa não é da “polarização”. Polarização é algo natural nas democracias, sobretudo no momento da disputa eleitoral. O Brasil viveu a polarização entre petistas e tucanos por mais de 25 anos e jamais vimos nada semelhante ao que estamos testemunhando desde janeiro de 2019. O que de mais grave aconteceu foi a bolinha de papel atirada na careca de José Serra, em 2010, quando o tucano fazia campanha em Campo Grande, bairro localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Trata-se de uma das regiões mais violentas do Brasil, hoje território dominado pelas milícias. Em “Big Field”, uma bolinha de papel na cabeça é praticamente um cafuné.

3°) O verdadeiro responsável tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro, que estimula seus seguidores a se armarem e praticarem violência contra adversários políticos. Já passou da hora de atribuirmos os devidos nomes ao que está acontecendo no Brasil. O bolsonarismo se tornou uma organização de guerrilha urbana. O bolsonarista orgânico é um terrorista e como tal deve ser tratado pela Justiça.

4°) A morte de Marcelo Arruda está atravessa por símbolos que traduzem os aspectos mais trágicos da crise democrática brasileira. Pamela , esposa de Marcelo, se colocou na linha de tiro, na frente do agressor armado. Pamela representa cada esposa e cada mãe que sabem perfeitamente como o armamentismo bolsonarista ameaça a vida de seus companheiros e filhos. Marcelo era guarda municipal, servidor da segurança pública, agente da ordem, treinado para situações de conflito. No enterro, seus colegas, fardados, carregaram o caixão, em lágrimas. No terror bolsonarista, ninguém está seguro.

Em 2018, fomos às ruas gritando “Ele não”. Em 2022, a palavra de ordem precisa ser outra: “Ele mata!!!”.

Rodrigo Perez Oliveira – de Teoria da na Universidade Federal da Bahia

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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