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Envio pelas mídias meu carinho e meu abraço

Envio pelas mídias meu carinho e meu abraço

Hoje,  19 de março, às 19h, quero fazer uma a , uma pessoa brava como Tuíra Kaiapó, meiga como a Encrenca, mas de coração puro, boa e gente verdadeiramente do bem!

Parabéns, Zezé!

Minha hermana, muito amada!

Na impossibilidade de lhe envolver num apertado

Abraço, desses que só sabem quem muito amou

Quem riu de tristezas

E chorou de alegrias

E esteve – ali – firme, sensata, discreta e sábia companhia

É que pode dizer: envio pelas mídias, o meu abraço também

 

Hermana, que loucura é essa? Que pandemia é essa? Que (des)governo é esse?

É o que temos. Ou Fake, urna fraudada ou milhões de cegos, surdos e mau-caratismo.

É por isso que lhe admiro tanto! Nunca trocou de lado, aprendeu que o perdão,

Mesmo de um só lado é a melhor opção.

A – irmã – amiga- companheira: nunca abandona um dos seus na chapada.

Põe no colo, dá colo e faz cafuné.

Com você o papo é reto. Resolvido o atrito: como você diz: Borrão e conta nova.

 

Aprendi muito e aprendo a cada dia, a cada revista que você imprime e faz circular

Com determinação, noites insones, garras afiadas e sutileza de raposa sábia.

Porque, hermana, por mais anos físicos que você complete, a idade não lhe alcança.

Existe um quê de menina arteira e inteligente que não esmorece, não se cansa e está pronta pra seguir em frente. E sempre novos projetos e sonhos e realizações!

Sob essa certeza é que sei que vamos sair desses dias cinzentos e vamos comemorar. Pandemias passarão, (des)governo miliciano e covarde, … dólar nas nuvens…gasolina a escorrer pelos dedos da … mas há, eu creio, nós cremos que uma estrela brilha no final desse abismo!

Olho e vejo você e seus pares e eu daqui torcendo pra gente se ver e tomar aquele café com deliciosa.

Receba, todo meu e meu abraço (virtual) neste seu dia.

Carinhos!

Sú hermana, te ama!

Ieda Vilas-Bôas

Zezé sempre teve das suas, que um dia desses vou escrever, eu ainda menina e ela sempre com a mesma roupa: calça jeans, camiseta branca, tênis sujo e furado no dedão, porque o tétano deixou sua unha partida e dolorida. (Essa é outra genial história da Zezé).

Tomei coragem e perguntei se ela não tinha outra roupa pra vestir. Com seus olhos miúdos, me fez sentar na cama, escorada com uma lata de óleo e me disse assim: Quero todas as minhas roupas iguais, que é para não perder escolhendo roupa. Já está escolhida!

Hoje sei que a roupa de sempre não era só falta de tempo, era também falta de grana.

Zezé me pediu para ver o que eu estava bordando num short. Ela comentou que era legal customizar roupas, mas eu havia bordado a palavra JEANS.

Ela manejou a cabeça, coçou o cabelo curto, como o de um menino e me disse: hermana, escreve NOEL.  Escrevendo Jeans, vc fortalece a economia americana… foi uma aula.

Tornei-me nacionalista ali. E quando as colegas riam do meu Noel, achando que era homenagem a Papai Noel, eu ria e me considerava superior: – Não conhece o Noel? O famoso Noel Rosa?

Meu peito inflava de orgulho e eu dizia para a meninada: – Vocês tem muito o que aprender!

Mal sabiam que uma Zezé nasce a cada 100 mil pessoas. E a de tê-la como irmã é um grande presente!

Gratidão, hermana!

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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