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ERA UMA VEZ… UM CURUMIM QUE SONHAVA GRANDE

Era uma vez… um curumin que sonhava grande 

Sentado na curva do rio, o Curumim olhava as estrelas refletidas nas águas. Sonhava que um dia seria grande e que ia correr pelo mundo, montado no vento que fazia ranger o tabocal onde o curupira se escondia.

ERA UMA VEZ... UM CURUMIM QUE SONHAVA GRANDE
Foto: Marcelo Casal Jr – Agência Brasil

Por Marcos Jorge Dias

A brisa morna aquecia sua pele e a escuridão da noite lhe cobria o corpo com a maciez do pelo da onça preta, a quem admirava por sua beleza e temia por sua ferocidade.

Sentado à margem do rio, o Curumim sonhava voar em meio à imensidão de estrelas refletidas nas águas. Sonhava que mergulharia entre as nuvens que viravam cachoeiras quando a chuva caía sobre a floresta.

Sentado na curva do rio, o Curumim sonhava um dia virar boto e mergulhar sem medo no mundo das águas em meio aos tracajás, jacarés e aruanãs que habitam o rio estrelado

O piar do Caburé rasgou o silêncio da noite e arrancou o Curumim das profundezas do sonho.

Sentado à margem do rio, o Curumim sentiu o calor do projétil que varou sua pele e explodiu seu coração. 

Seus olhos, fixos no céu, refletiam as estrelas enquanto seu sangue se misturava às águas contaminadas por mercúrio dos garimpos que invadiram a floresta onde, um dia, sentado na margem do rio, o Curumim sonhava.

MARCOS JORGE DIASMarcos Jorge Dias – Conselheiro da Revista Xapuri. Curumim acreano, por todos os Curumins assassinados, nas florestas, nas cidades, na faixa de Gaza. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CURUMIN

Djavan

O que era flor
Eu já catei pra dar
Até meus lápis de cor
Eu já dei
G.I. Joe, já dei
O que se pensar
Eu já dei
Minhas conchas do mar
Ah! Minha flor
Chega de maltratar
O que mais pode agradar
A você
Eu já fiz de tudo
Cadê que adiantou
Que louco
Que é o amor
Tem graça viver
Quando ela fica de mal
Não quer brincar

Txucarramãe
Krenacroro
Kalapalo
Yawalapiti – iiii – iiii
Kamayurá
Kayabí
Kuikúru
Waurà
Suyá
Awetí – iiii – iiii

Composição: Djavan
 
 

 

CURUMIN 

Curumim é uma palavra de origem tupi, e designa, de modo geral, as crianças indígenas. Possui, como variantes, as seguintes formas: colomim, culumim, colomi, curumi e culumi, sendo a forma usual, no português falado no Brasil, a de Curumim, como sinônimo para criança.

ERA UMA VEZ... UM CURUMIM QUE SONHAVA GRANDE
Foto: EBC

O Sol era apaixonado pela Lua, mas nunca se encontravam. Quando o Sol ia se pondo, era hora da Lua ir nascendo… E assim viveram por milhões e milhões de anos…

Uma enorme montanha, muito alta, repousa no meio dos imensos campos de Roraima. Em cima, um vale de cristais e um lago de águas cristalinas, os quais reservam para si os mistérios da natureza. Um belo dia, o Sol atrasou-se um pouco (eclipse) e o tão ansiado encontro aconteceu. Seus raios dourados refletiram, juntamente com os raios prateados da Lua, no lago misterioso… Nesse encontro, Makunaima foi fecundado!

Makunaima curumim esperto, cheio de magias, teve como berço o Monte Roraima…. Cresceu forte e tornou-se um índio guerreiro; os índios Macuxi o proclamaram herói de sua tribo.

Fonte: Roraima Adventures

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Foto: EBC
 
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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