ESPAÇO CHICO MENDES NA COP 30 DESTACA LEGADO DE RESISTÊNCIA E REÚNE POVOS DA FLORESTA EM BELÉM

ESPAÇO CHICO MENDES NA COP 30 DESTACA LEGADO DE RESISTÊNCIA E REÚNE POVOS DA FLORESTA EM BELÉM

Espaço Chico Mendes na COP 30 destaca legado de resistência e reúne povos da floresta em Belém

A programação, que se estende por 15 dias, ocupa uma área de 7 mil metros quadrados e inclui dezenas de atividades, entre plenárias, painéis, oficinas, exposições, mostras de cinema e apresentações culturais

Por O Liberal

O diretor explicou que o espaço conta também com o apoio da Secretaria de Povos Tradicionais e Comunidades da Amazônia, do Ministério do Meio Ambiente, sob coordenação da secretária Edel Moraes, e com financiamento da Fundação Banco do Brasil.

“É um conjunto de instituições e de iniciativas que, através da Confederação Nacional dos Seringueiros, não abrange mais apenas o escopo dos seringueiros, mas de toda a população extrativista da Amazônia. Aqui, estamos realizando uma série de discussões e seminários sobre as dificuldades e as soluções possíveis para as reservas extrativistas”, explicou Gabas.

O legado de Chico Mendes e a preservação da Amazônia

Nilson Gabas ressaltou a importância histórica de Chico Mendes para a criação das reservas extrativistas, conceito que nasceu de sua luta. “O conceito de reserva extrativista foi desenvolvido por Chico Mendes. Trata-se de uma unidade de conservação onde vivem populações tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e indígenas, declarada como área de uso sustentável da biodiversidade e de preservação da cultura desses povos”, afirmou.

Durante a abertura, rituais e apresentações culturais marcaram o início da programação. “A diversidade cultural amazônica vai estar expressa aqui por quase duas semanas. Teremos atividades culturais, shows e a participação da Ângela Mendes conosco no Museu Goeldi”, completou Gabas.

Fundo global e o papel das comunidades na mitigação climática

Ao comentar sobre o papel das comunidades tradicionais na COP 30, o diretor destacou a relevância das negociações conduzidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a criação de um fundo multilateral de financiamento para a manutenção da floresta em pé.

“Essa é uma iniciativa inédita no mundo. Quem preserva, até hoje, não recebe os benefícios disso. Agora, haverá um fundo de compensação para quem mantém a floresta. Isso se relaciona diretamente com as reservas extrativistas, que são polos de mitigação das mudanças climáticas”, observou Gabas.

Ele ressaltou que o debate também envolve questões de financiamento e inovação social. “É preciso garantir recursos e oportunidades para que as reservas se desenvolvam, vendam produtos e criem novas tecnologias sociais. Esse será um dos temas centrais aqui no espaço”, concluiu.

Compromisso com o desenvolvimento sustentável

A gerente de estratégia e organização da Fundação Banco do Brasil, Mariana Oliveira, destacou o compromisso da instituição com as comunidades tradicionais. “A Fundação Banco do Brasil tem um compromisso muito firme com os povos da floresta, da cidade e dos campos, em relação ao desenvolvimento social e à justiça ambiental e climática. Nosso dever é apoiar espaços onde possamos escutar e construir estratégias para uma transformação justa, que inclua todos”, afirmou.

Mariana ressaltou que a Fundação tem atuado fortemente em iniciativas voltadas à agroecologia, ao extrativismo e à produção orgânica, por meio de programas como o Ecoforte, e em projetos de fortalecimento de catadores de materiais recicláveis, mulheres em quintais produtivos e cozinhas solidárias.

“Trabalhamos para dar condições de trabalho e geração de renda a catadores, fortalecer redes agroecológicas e apoiar projetos produtivos sustentáveis. Em muitos casos, fazemos investimentos não reembolsáveis, fundamentais para que comunidades se desenvolvam até conseguirem acessar crédito e competir no mercado”, explicou.

Segundo ela, o Banco do Brasil é parceiro direto nessas ações, e o foco é garantir autonomia e transformação social. “Esse trabalho é fruto de mobilização, de lideranças fortes nos territórios e do entendimento das políticas públicas. É assim que a gente vem construindo transformação e justiça social por todo o país”, concluiu Mariana Oliveira.

“As vozes da floresta precisam estar no centro das decisões climáticas”, defende Ângela Mendes

Filha do líder seringueiro Chico Mendes e presidenta executiva do Comitê Chico Mendes, Ângela Mendes reforçou, durante a abertura do espaço no Museu Goeldi, a importância de manter vivo o legado de seu pai e de colocar os povos da floresta no centro dos debates globais sobre o clima. Criado na noite do assassinato de Chico, o comitê nasceu, segundo ela, “para lutar contra a impunidade e cuidar do legado político e ambiental que ele deixou”.

“Estamos num bioma que mais do que nunca demonstra a necessidade de rever todos os nossos paradigmas. Aqui estão povos que, com seus conhecimentos tradicionais, constroem soluções diárias para os grandes problemas da crise climática”, afirmou.

Para Ângela, a COP 30 representa um momento histórico e uma oportunidade de transformar a dor em avanço. Ela destacou que, enquanto as comunidades amazônicas não forem incluídas nas decisões internacionais, as soluções seguirão incompletas.

“Essas pessoas precisam deixar de ser apenas denunciantes das violações que sofrem e passar a ser parte da solução. São elas que carregam, na história e na luta, as respostas que o planeta precisa ouvir”, defendeu.

Fonte: O Liberal Capa: Claudio Pinheiro/O Liberal

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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