Os povos e as máscaras

Esse artigo tem outro escopo e outro “layout”. Porque a semiologia exige de nós a busca pela criatividade, sempre pensando no que possa ser o exercício dialético melhor otimizado a construir uma nova Estética Civilizatória.

Fiz esse (abaixo) que só faz sentido vendo a imagem[1] de uma , seminua, na devoção da Natureza, contemplando um EPI muito usado nesse tempo de Coronavírus: a máscara. Trata-se da foto de Joédson Alves que peço licença para escrever (sobre) em sua dialogia tão intensa.

Antes, pensando na incapacidade de nossas cínicas instituições (o poder formal) que “obriga” à fome e à doença nossos , ou os faz, deliberadamente, terem de se humilhar nas cidades, para buscar benefício de R$ 600,00 em casas lotéricas e bancos lotados, levando de volta às aldeias, a .

Onde chegamos, minha gente?! Que civilização é essa, a nossa, que não dá conta minimamente de cuidar, senão, ao menos respeitar o isolamento (cada vez mais necessário) dos originários?! Respondo: é um projeto político de genocídio. Para que o , a Mineração e tudo que gira em torno da riqueza do capital avance mais e mais como um monstro que não se sacia. É preciso que se “mate” os povos indígenas. E como não podiam dizimá-los diretamente, a desfaçatez perante o Coronavírus, com a omissão do , aliado a nosso silêncio militante[2], vai conseguindo completar a missão dos colonizadores de 1.500.

 

Estética Civilizatória
 Joédson Alves

Eles jamais precisaram de roupas.

Porque a Mãe-Terra só lhes reparava pureza.

Hoje se obrigam usar máscaras.

Porque os parentes da colonialidade,

Na mais fria pobreza:

A desumanidade,

Continuam outra forma de extermínio: o descaso!

A máscara é o acaso simbólico.

É o atesto que fracassamos enquanto humanos.

 

Cubramo-nos todos, agora,

Porque nossas vergonhas estão expostas,

Sem respostas,

Sem propostas,

Mas principalmente,

Sem essência

E, portanto, somente com essa

[ vidinha vazia que sobrou aos povos do lado de cá,

Em que as máscaras,

Faz tempo,

Caíram.

E esse é o pior do contaminar(-se):

Consolidamos nosso desumanizar(-se)…

……………

[1] Trata-se do Yanomami, no município de Alto Alegre, estado Roraima.

Para ver outras fotos:

https://www.laverdad.es/multimedia-dia/coronavirus-amenaza-pueblo-yanomami-20200702211816-ga.html#imagen4

[2] Preciso fazer uma confissão pessoal: ao ver a imagem; ao pensar nos nossos ancestrais gritando na Natureza; ao ir escrevendo o poema, sentia tanta dor no peito, tanta angústia. Peço desculpas pela carga de emoção, se – para você – exagero!

[3] Dei ao poema o mesmo título que usei na base do artigo: “Os povos e as máscaras”

Marconi Moura de Lima Burum.

Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi Secretário de Educação e Cultura, e após, Turismo, em Cidade Ocidental. Trabalha na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Teima discutir questões para uma nova Estética Civilizatória em nosso País.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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