Os Geoglifos do Acre
Figuras esculpidas há mais de mil anos em terras acreanas desafiam a lógica e seguem impressionando pela grandiosidade de suas formas…
Da Revista Nova Terra
Você já imaginou avistar do alto de um avião e no meio da floresta acreana um gigantesco desenho esculpido na terra? Pois no Acre isso é possível.
O estado é um dos poucos lugares do mundo e o único do Brasil onde pesquisadores conseguiram localizar Geoglifos, vestígios arqueológicos representados por imensas figuras que podem ser geométricas (círculos, quadrados, octógonos, hexágonos), zoomorfas (desenhos de animais) ou antropomorfas (formas humanas).
Os Geoglifos do Acre foram registrados pela primeira vez no final da década de 70, durante inventário realizado por uma equipe de pesquisadores coordenada por Ondemar Ferreira Dias Junior (UFRJ) – do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônica (Pronaba).
Em 1977 eles indicaram a ocorrência de estruturas de terra que assumiram formas geométricas e estavam localizadas próximas à sede da Fazenda Palmares. Mais tarde, essas figuras foram reconhecidas como Geoglifos.
Até o final dos anos 90, novos Geoglifos foram encontrados no Acre. Mas essas surpreendentes figuras só ganharam repercussão a partir de 2000 quando o paleontólogo Alceu Ranzi e o historiador Marcos Vinicius Neves divulgaram imagens feitas num sobrevoo pela região.
Na época, foram fotografados seis Geoglifos geométricos (quadrados e círculos), todos localizados na estrada que leva ao município de Boca do Acre, no Amazonas.
A repercussão das imagens foi um incentivo para novas pesquisas e observação de Geoglifos na região. Até agora, foram localizados mais de 100 sítios arqueológicos com gigantescas figuras geométricas – tão grandes que nelas cabem mais de seis campos de futebol.
Escavadas no solo, as estruturas circulares ou retangulares têm até 100 metros (algumas mais) de diâmetro com valas que variam de 1 a 3 metros de profundidade.
Ao todo são 138 figuras, situadas entre os municípios de Xapuri, e Boca do Acre, no sul do Amazonas. Mas os pesquisadores acreditam que este número é bem maior, porém difícil de comprovar devido à densa vegetação das áreas de floresta.
Fonte: Nossa Terra: uma viagem às origens da vida. Fundação de Cultura Elias Mansur – FEM. Biblioteca da Floresta, 2010. fotos: Imabem Iphan
Os geoglifos do Acre são estruturas de terra escavadas no solo e formadas por valetas e muretas que representam figuras geométricas de diferentes formas.
Esses recintos foram encontrados na região sudoeste da Amazônia Ocidental, mais predominantemente na porção leste do Estado do Acre, estando localizados em áreas de interflúvios, nascentes de igarapés e várzeas, associados em sua maioria aos rios Acre e Iquiri.
No Acre, foram identificados mais de 300 sítios arqueológicos do tipo geoglifo que estão compostos por 410 estruturas de terra, números que vem aumentando, devido ao desenvolvimento de pesquisas arqueológicas no Estado.
Os primeiros registros desses sítios remontam à década de 1970, quando o pesquisador Ondemar Dias, no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônica (Pronapaba), localizou oito estruturas de terra no Acre.
Contudo, foi somente a partir dos anos 2000 esses sítios tiveram projeção midiática e foram alvo de intervenções científicas sistemáticas. As pesquisas arqueológicas nessas áreas, revelam informações importantes sobre o manejo da paisagem amazônica por grupos indígenas que habitaram a região entre, aproximadamente, 200 AC – AD 1300, e sugerem um novo paradigma sobre o modelo de ocupação da Amazônia por densas sociedades pré-coloniais.
Considera-se que a peculiaridade de transformação da paisagem, as formas, técnicas e dimensões dos geoglifos representam motivos de interesse para a divulgação de um patrimônio arqueológico singular do ponto de vista da ocupação pré-colonial na Amazônia.
Apesar de não haver uma interpretação única entre arqueólogos e demais pesquisadores que investigam o tema sobre a função e uso dos geoglifos, as conjecturas gerais parecem convergir para a ideia de que se tratam de espaços sociais coletivos para uso cerimonial, simbólico, ritualístico ou ainda para moradia.
O estudo dessas estruturas de terra cada vez mais confirma que o processo de ocupação e povoamento da região amazônica, no primeiro milênio da era cristã, foi empreendido por grupos indígenas numerosos e com grande capacidade tecnológica para modificar o ambiente de terra firme e várzea, imprimindo na paisagem características de sua identidade.
Pela sua excepcionalidade e relevância para a compreensão do período pré-colonial, tais sítios representam um exemplar único do patrimônio histórico e social que conduz a novas perspectivas de preservação, gestão e divulgação desses bens culturais.
Possuem, ainda, grande relevância para a identidade amazônica por se constituir em uma paisagem cultural resultante de marcas sociais e simbólicas que expressam não apenas a capacidade tecnológica de manejo do meio ambiente, mas, acima de tudo, a paisagem com características indígenas.