O Pantanal Mato-Grossense e o Cerrado: Um mesmo Sistema Biogeográfico
O IBGE divide o Brasil em seis ambientes diferentes, denominados pelo órgão de Biomas. São estes: Bioma Amazônico ou Amazônia; Bioma Caatinga; Bioma Mata Atlântica; Bioma Pampa; Bioma Cerrado e Bioma Pantanal.
Por Altair Sales Barbosa
Uma rápida olhada com mais cuidado dessa divisão demonstra que não foram levados em consideração os aspectos fisiográficos, bióticos, edáficos e climáticos, dentre outros, do território brasileiro. Tampouco a história evolutiva de cada ambiente.
Essa divisão parece mais ligada às questões políticas e econômicas que aos estudos ambientais.
O próprio conceito de bioma (1916), diga-se de passagem, ultrapassado, dentro dos conhecimentos que a ciência expõe ultimamente e que hoje torna-se impossível entender qualquer matriz ambiental sem considerá-los, não serve de base para o IBGE tomar como orientador de seus conceitos e divisões.
As pessoas que ainda insistem em usar o conceito de Bioma para caracterizar uma matriz ambiental tentam complementar a visão deste, incluindo alguns elementos do ecossistema, mas o fazem de forma desordenada, como se fosse um remendo mal costurado, fato que impede ainda mais a visão de totalidade.
O caso dos Campos de Roraima e Tumucumaque, por exemplo, que se configuram como um Domínio particularizado, definido por Ab’Sáber em 1977, ou Sistema Biogeográfico, na classificação de Barbosa (1992), constitui uma afronta colocá-los como Bioma Amazônico, pois clima, solo, vegetação, história evolutiva etc. são totalmente diferenciados.
O mesmo acontece com as áreas do Planalto Sul brasileiro, coberto por um velho manto de araucárias e associado ao tampão basáltico da Formação Serra Geral, ser incluído no Bioma da Mata Atlântica.
Também é uma afronta descomunal, por falta de conhecimento, separar o Pantanal Mato-Grossense do Cerrado, já que esse não passa de um subsistema alagadiço, formado por uma depressão relativa, dentro do Sistema Biogeográfico do Cerrado que, por sinal, possui áreas similares menores ao longo da sub-bacia do rio Paranã e da sub-bacia do rio Capivari, no sudoeste de Goiás.
O Pantanal Mato-Grossense apresenta, em relação às outras áreas de Cerrado, apenas uma concentração faunística maior, fato perfeitamente explicado pela Biogeografia. Na América do Sul, desde o final do Pleistoceno, configuraram-se dois grandes corredores de migração silvestre. Um desses corredores recebe a denominação de Corredor das Formações Arreicas.
É proveniente da Cordilheira dos Andes, corta em sentido diagonal a América do Sul e termina no litoral brasileiro. O outro corredor se denomina Corredor das Formações Abertas, tem origem no Nordeste brasileiro e termina no Paraguai.
Esses dois corredores se encontram no Pantanal Mato-Grossense, o que explica a maior quantidade de fauna nesse local em relação aos demais ambientes sul-americanos.
Portanto, para finalizar, fica como sugestão ao IBGE mergulhar com carinho no estudo da Biogeografia do Brasil e da América do Sul, rever seus conceitos etc.
As escolas não podem continuar ensinando essa matéria de forma incorreta. Se essa situação persistir, como vem acontecendo, corre-se o risco de planejamentos ambientais deficientes e políticas públicas ineficazes.
Altair Sales Barbosa – Doutor em Antropologia e Arqueologia. Sócio Titular do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Pesquisador Convidado da UniEvangélica de Anápolis. Conselheiro da Revista Xapuri.