Faturamento anual do garimpo na Amazônia é de mais de R$ 13 milhões, mostra pesquisa
Estudo realizado pelo Instituto Escolhas expõe realidade atual da extração de minérios no bioma amazônico, revelando que atividade garimpeira está longe de sua origem artesanal.
Por Fernanda Soares/ O Eco
O Instituto Escolhas lançou esta semana um estudo que mostra o quanto a realidade do garimpo na Amazônia está muito distante de sua origem artesanal: a atividade, atualmente, requer altos investimentos, mas também possui retorno garantido.
Intitulado “Abrindo o livro caixa do garimpo”, o trabalho usou como exemplo as atividades garimpeiras realizadas na cidade de Itaituba, Pará. Por lá, o recurso que deve ser aplicado na criação de um garimpo de balsas (garimpo nas águas) é de R$3,3 milhões de reais, enquanto que para o garimpo de baixões (garimpo terrestre), o valor do investimento é de R$1,37 milhão.
Em retorno, os garimpos de balsa na região faturam cerca de R$1,16 milhão por mês, totalizando R$13.920 milhão de reais anuais. Após os custos, os garimpeiros ficam com R$ 632 mil por mês. Já o garimpo de baixões fatura R$ 930 mil mensalmente, com rendimento líquido de R$ 343 mil.
A pesquisa também mostra que o alto investimento na atividade não foi empecilho para sua expansão: de 2012 a 2021, a área total dos garimpos na Amazônia duplicou, crescendo mais de 80 mil hectares.
O trabalho chama a atenção para as inúmeras facilidades que a atividade encontra na legislação brasileira, o que acaba por não impedir seu crescimento.
“Os garimpos são empreendimentos com alto investimento e uma renda considerável, mas beneficiados por uma legislação que faz poucas exigências para autorizar as operações e que não atrela ao garimpo a responsabilidade de recuperar as áreas devastadas e contaminadas pelo mercúrio. Aí, reside o interesse em seguir mantendo a aura artesanal do garimpo, que já não é realidade há muito tempo”, alerta Larissa Rodrigues, gerente de portfólio do Escolhas.
Tais facilidades precisam urgentemente acabar, diz o Instituto, de forma que as consequências geradas pela atividade sejam cobradas de seus responsáveis. Do contrário, as áreas devastadas pela a execução da atividade continuarão a aumentar, gerando ainda mais custos ambientais.
O instituto Escolhas elencou algumas medidas urgentes que precisam ser tomadas para frear o avanço dos garimpos na Amazônia, entre elas, estão:
Passar a exigir dos garimpos trabalhos de pesquisa mineral, com planos de aproveitamento econômico, para estimar os volumes de minério disponíveis na área e a extração ao longo do tempo;
Limitar o número de permissões de garimpo a apenas uma por pessoa ou cooperativa, sempre respeitando a área-limite definida em lei;
Exigir prova de capacidade financeira dos titulares de permissões de garimpos, para garantir que possam cumprir com as responsabilidades ambientais e sociais;
Manter um licenciamento ambiental rígido e centralizado, condizente com o potencial de impactos da atividade, e não a cargo de órgãos ambientais municipais;
Exigir e fiscalizar a recuperação das áreas degradadas e as compensações ambientais e sociais;
Suspender novas rodadas de disponibilização de áreas para garimpos até que os gargalos na fiscalização e no combate às ilegalidades estejam devidamente corrigidos.
Fernanda Soares – Estudante de Jornalismo. Fonte: O Eco. Foto: Polícia Federal.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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