Febre Amarela: Bióloga relaciona surto em Minas com tragédia de Mariana

Febre Amarela: Bióloga relaciona surto em Minas com tragédia de Mariana

Febre Amarela: Bióloga relaciona surto em Minas com tragédia de Mariana

O estado brasileiro de Minas Gerais passa, nesse momento, por um aumento de casos suspeitos de febre amarela. Grande parte das cidades que identificaram pacientes com sintomas da doença em Minas está localizada na região afetada pela tragédia do rompimento da Barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco, controlada pelas empresas BHP Billiton e Vale S.A, próxima ao rio Doce, em Mariana, no mês de novembro de 2015.

Para a bióloga Márcia Chame, coordenadora da Plataforma Institucional de e Saúde Silvestre da Fiocruz, o surto de febre amarela na região pode estar relacionado com o crime ambiental de Mariana.  “Mudanças bruscas no ambiente provocam impacto na saúde dos , incluindo macacos. Com o de desastres, com a falta de alimentos, eles se tornam mais suscetíveis a doenças, incluindo a febre amarela”, diz Chame.

Entretanto, a bióloga chama a atenção para  o fato de que existem outros fatores que impactam nos indicadores da doença: “Isso pode ser um dos motivos que contribuíram para os casos. Não o único”. Márcia observa que essa região do Estado já apresentava um impacto ambiental importante, provocado pela mineração. “É um conjunto de coisas que vão se acumulando”, disse.

Embora não haja confirmação de causadas pela febre amarela, também foram notificadas mortes de macacos em Colatina, no Espírito Santo, cidade que faz parte da área afetada pelos reflexos do rompimento da barragem de Mariana. Técnicos estão no local para investigar as causas dos óbitos. O Espírito Santo faz parte do grupo de 8 Estados brasileiros são considerados livres de risco da  febre amarela.

FebreAmarelaMárcia afirma que os episódios deste ano se assemelham aos que foram registrados em 2009, quando um surto de febre amarela foi identificado no Rio Grande do Sul, área que por mais de 50 anos foi considerada livre da doença. “Ambientes naturais estão sendo destruídos. No passado, o ciclo de febre amarela era mantido na . Com a degradação do meio ambiente, animais acabam também ficando mais próximos do homem, aumentando os riscos de contaminação.”

Na floresta, o vetor da febre amarela é o inseto Haemagogus. Ao picar um macaco contaminado, o mosquito recebe o vírus e, por sua vez, passa a transmiti-lo nas próximas picadas. Quando um homem sem estar vacinado entra nesse ambiente, ele também pode fazer parte do ciclo: transmitir ou ser infectado pela picada do mosquito.

Essa corrente aumenta quando animais, por desequilíbrios ambientais, deixam seus ambientes e passam a viver em áreas mais próximas de povoados ou cidades. “Com o , animais também se deslocam, aumentando o risco de transmissão.”

Chame recomenda, como medida de curto prazo, o reforço da vacinação nas áreas de risco. O imunizante, embora seguro, deve ser aplicado de acordo com as recomendações de autoridades sanitárias e, em caso de pacientes com doenças que afetam o sistema imunológico, de acordo com a orientação do médico.

A médio prazo, Márcia Chame recomenda como essencial a manutenção de . “Os animais têm de ter espaço para viver, evitando assim a migração para áreas próximas de centros urbanos”, disse. “Animais agem como filtros de doenças.”

No Brasil, a transmissão da febre amarela em áreas urbanas não ocorria desde 1942.

Febre Amarela: Bióloga relaciona surto em Minas com tragédia de Marianafoto: andrearnaldopereira.jusbrasil.com.br
 
FORMAS DE CONTATO DA FEBRE AMARELA 
 
A transmissão da febre amarela em área silvestre é feita por intermédio de mosquitos do gênero (principalmente) Haemagogus. O ciclo do vírus em áreas silvestres é mantido através da infecção de macacos e da transmissão transovariana (passado de mosquito para os seus descendentes, filhos) no próprio mosquito. A transmissão da doença do meio rural para a área urbana feito pela contaminação de seres humanos nas áreas rurais.  Depois de infectada, ao retornar à cidade a pessoa pode servir como fonte de infecção  para o mosquito Aedes aegypti, que então pode iniciar a transmissão da febre amarela em área urbana. Uma pessoa pode ser fonte de infecção para o mosquito mesmo antes de surgirem os sintomas, até o quinto dia da infecção. Ele torna-se capaz de transmitir o vírus da febre amarela 9 a 12 dias após ter picado uma pessoa infectada.
 
PROVIDÊNCIAS DO GOVERNO DE MINAS
 
Para prevenir mais casos de febre amarela,  o governo de Minas fechou os Parques Estaduais do Rio Doce e Serra do Brigadeiro por tempo indeterminado. Nas duas áreas, há registro da de dezenas de macacos e de casos da doença em humanos.
 
Febre Amarela: Bióloga relaciona surto em Minas com tragédia de Mariana
Parque Estadual do Rio Doce – fechado para evitar contágio
(foto: Evandro Rodney/Divulgacao )
 
Fontes dos conteúdos desta matéria:

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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