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Federações partidárias melhoram o cenário eleitoral

Federações partidárias melhoram o cenário eleitoral

Federações partidárias melhoram o cenário eleitoral

Por Márcio Santilli 

Estamos a um ano do primeiro turno das gerais de 2022. Terça-feira passada (28), o promulgou as novas regras eleitorais, após a apreciação dos vetos do presidente Bolsonaro a dispositivos legais aprovados anteriormente. Qualquer alteração na legislação precisaria estar definida um ano antes, para poder vigorar nas eleições seguintes.

Felizmente, frustraram-se as iniciativas para destruir o sistema de eletrônica e retroceder ao voto manual e, também, para instituir o “distritão”, que prejudicaria a representação dos partidos e favoreceria os candidatos mais ricos, conhecidos ou que exercem mandatos. Além disso, o Senado conteve a tentativa, aprovada na Câmara, de restabelecer a possibilidade de coligações partidárias nas eleições proporcionais, de deputados federais, estaduais e vereadores.

Coligações entre partidos continuam sendo possíveis nas eleições majoritárias, de presidente, governadores, senadores e prefeitos. No entanto, já haviam sido proibidas nas eleições dos vereadores em 2020. Antes, quando eram admitidas, as coligações ocorriam, sobretudo, por oportunismo ou por interesse paroquial, sem coerência programática e podendo variar de um lugar para outro. Assim, favoreciam a proliferação de legendas e distorciam a representação parlamentar.

Novidade

A principal novidade legal é a figura da federação partidária, instituída pelo Congresso e vetada por Bolsonaro. No início desta semana, este veto, entre outros, foi derrubado pelos parlamentares, de modo que poderão ser constituídas já para as próximas eleições. A formação de federações partidárias pode ocorrer no mesmo prazo legal para as convenções partidárias que indicarão os candidatos.

As federações partidárias são de âmbito nacional, estendem-se a todos os estados e municípios, e devem vigorar por, no mínimo, quatro anos, aplicando-se às eleições seguintes. A sua criação requer a aprovação de um programa e de um regimento próprios, que devem orientar a atuação dos eleitos. Nisso tudo, as federações diferem das antigas coligações proporcionais.

Uma vez criada, a federação tem as mesmas prerrogativas de um partido, embora a lei garanta a própria dos partidos que a integram. Por exemplo, para o cumprimento da chamada cláusula de barreira, a votação mínima exigida para um partido se manter. Com isso, partidos menores, que não teriam condições de cumpri-la isoladamente, poderão atingi-la somando votos em federações.

Possíveis pactos

Vamos ver como essa novidade vai funcionar. Poderá dar um gás aos partidos menores, mas também poderá favorecer futuras fusões, ou a criação de frentes partidárias mais perenes. Além disso, a ver como as contradições e conflitos próprios da múltipla em que vivemos vão afetar a unidade das bancadas eleitas pelas federações. Serão experimentos políticos.

As federações também têm a mesma prerrogativa dos partidos para integrarem coligações nas eleições majoritárias. Lembrando que as coligações nacionais não necessariamente se reproduzem nos estados. Mas claro que os partidos que integram uma federação estariam sujeitos às decisões comuns sobre coligações.

Respeitado o mínimo de união, os partidos poderão sair de uma federação, mas ela poderá continuar existindo se dois ou mais partidos permanecerem. É provável que a consistência democrática dos seus regimentos determine a longevidade das federações.

Quando o veto presidencial às federações partidárias foi derrubado, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) defendeu a sua manutenção “para eliminar alguns comunistas”. Na verdade, a derrubada do veto permitirá, por meio das federações, que um número maior de votos populares – não apenas de comunistas – defina a composição dos legislativos, fortalecendo a nossa .

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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