Festas de Reis
Por Adair Rocha
Pelo Brasil inteiro, vindo da Espanha e de Portugal, esse acontecimento constitui-se numa das expressões mais vivas do Natal no Brasil. Sobretudo, os Estados de Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo, com São Paulo e Rio de Janeiro transbordam a poesia, a reza, o canto no encanto das vozes. A sabedoria dos Mestres/Griôs reproduzem a história sagrada, da anunciação ao Nascimento, até a “fuga para o Egito, passando pela perseguição do Rei Herodes, na matança das crianças, para atingir o “Salvador do Mundo“.
Depois de dois anos se a festa presencial, celebrada apenas online, voltaremos, hoje, com todos os cuidados sanitários, à cantoria presencial, da chegada dos “Santos Reis” para a entrega de ouro, incenso e mirra, para o Menino que nasceu na estrebaria de Belém.
A chegada foi difícil. Apesar de seguir a Estrela Guia, tinham que disfarçar, para Herodes não chegar antes. Os mascarados ou os Palhaços representam esse dado histórico do medo do Menino.
Tendo sido Folião de Reis lá nas Geraes, chegando ao Rio na metade dos anos setenta, segui o ritual da apresentação e do reconhecimento, até que, a partir de oitenta, passei a fazer parte dos Penitentes do Santa Marta, desde então me visitando ou me recebendo na Favela, em todo seis de Janeiro, 42 anos, portanto.
Tempo de vivência com a sabedoria dos Mestres: Joãozinho, Dodô, Luiz, Zé Diniz, Riquinho ( levado, infelizmente, pelo Covid19, e, agora, temos Mestre Ronaldo, também da Família Silva, hegemônica nessa tradição.
Folias, Companhias ou Ternos de Reis constituem-se, certamente, numa das redes culturais e religiosas das mais fortes no país. Um modelo rural, cada vez mais fortes nas favelas e periferias, com resultado do fenômeno econômico gerador de um dos grandes êxodos rurais.
Apesar dos cuidados sanitários, irei com o presépio e a bandeira dos Reis Magos, para desafiar a cantoria do Novo Mestre, que, como mestre dos Palhaços, foi irrevogável!
Viva o Menino Jesus! Viva Melchior, Gaspar e Baltazar! Viva a Virgem Maria, São José, os Pastores e todos os animais e a Natureza.
Adair Rocha
Folião de Reis
Professor na PUC-Rio e na UERJ
Diretor do Departamento Cultural da UERJ
Escritor de Cidade Cerzida

Fotos: Capa – Amanda Oliveira. Interna – Turismo em Minas Gerais.
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